Olá a todos. Este é um post já um pouco bastante atrasado sobre um tópico muito importante dentro da
argumentação: as falácias.
Falácias são argumentos que parecem corretos, que muitas
vezes seguem a estrutura de um raciocínio lógico, mas têm alguma falha que os
torna inválidos. Ou seja, o uso de uma falácia não prova que o seu autor tem
razão, mas ainda assim pode convencer ouvintes pouco atentos.
Se
você já se envolveu em uma discussão com alguém, certamente já ouviu ao menos uma
falácia (mas talvez não a tenha reconhecido). E nada impede que você já tenha
usado várias delas, conscientemente ou não.
Abaixo,
vamos ver alguns exemplos de falácias mais comuns.
1. Post
Hoc Ergo Propter Hoc (Falsa Causa)
Post Hoc Ergo Propter Hoc significa, literalmente, “Se
aconteceu depois, aconteceu por causa de”. Essa falácia ocorre quando um evento
sucede o outro e alguém usa esse fato para dizer que o segundo evento foi
causado pelo primeiro.
Por
exemplo:
-
Hoje eu levantei com o pé esquerdo
-
Hoje meu dia foi ruim
-
Logo, hoje meu dia foi ruim porque eu levantei com o pé esquerdo
Embora
pareça haver uma relação entre as duas primeiras proposições, não há prova de
que essa relação é causal, ou seja, de que a primeira proposição é a causa da segunda.
Outro exemplo comum de falsa causa é o argumento usado por políticos quando
fazem afirmações do tipo: “no meu mandato, a inflação diminuiu”. Ao dizer isso,
o político quer criar uma relação causal entre seu governo e a queda da
inflação, mas nada garante que essa relação exista. Para prová-la, o governante
deveria apontar especificamente quais atitudes suas diminuíram a inflação no
país.
Um
livro muito interessante sobre esse assunto é o Freakonomics, de autoria de Stephen Dubner e Steven Levitt. No
livro, os autores mostram que nem sempre dois elementos que aparecem ao mesmo
tempo mantêm uma relação de causa e consequência.
Veja outro exemplo, retirado do site Saindo da Matrix (http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2007/08/como_lidar_com.html),
sobre um depoimento feito durante um encontro de exorcistas no México:
“No debate, uma mulher tomou
o microfone e contou que uma amiga nos EUA tem enfrentado problemas depois que
o filho entrou em contato com o personagem: "Desde que o menino começou a ler os livros e assistir aos filmes
do Harry Potter, sua família começou a ter muitos problemas: o filho virou
homossexual, a filha ficou viciada em drogas e o pai, alcoólatra. E isto é
verídico!".
2. Ad Hoc (Causa
comum ou Explicação Posterior)
Na
causa comum, o que ocorre é que alguém tenta explicar um fato que já ocorreu e,
para isso, elege um evento como a possível causa. No entanto, pode ocorrer de
essa causa, embora existente, não ser a principal. Por exemplo, frequentemente
vemos o argumento de que os criminosos não são culpados por seus atos, já que
só seguiram o caminho do crime devido à falta de oportunidade. Porém, uma
observação mais racional irá revelar que nem toda pessoa que sofreu com a
miséria resolveu se tornar um bandido e que há, por outro lado, criminosos que
tiveram acesso a muitas oportunidades. Portanto, embora a miséria de um ladrão
possa ser uma das causas de seus atos, certamente há outras causas que devem
ser consideradas.
Outro
exemplo (retirado do site do jornal O Estado de SP):
Hugo
Chávez culpa capitalismo por enchentes
O
presidente da Venezuela Hugo Chávez culpou no domingo o capitalismo
"criminoso" por fenômenos climáticos globais, incluindo chuvas
incessantes que trouxeram o caos ao país, matando 32 pessoas e deixando 70 mil
desabrigados. (...) "O
desequilíbrio ambiental que o capitalismo causou é sem dúvida a causa
fundamental desses fenômenos atmosféricos alarmantes", ele escreveu em
sua coluna de opinião semanal. (...)
Apesar
de o discurso de Chávez sempre angariar algum apoio, a Venezuela não parece bom
candidato a herói ambiental considerando que o país é um grande exportador de
petróleo e sua sociedade é notoriamente consumista.
3. Argumentum ad Verecundiam (Apelo à
autoridade)
Consiste
em considerar um argumento verdadeiro apenas devido à pessoa que o proferiu,
sem analisar o argumento em si. É um recurso muito usado em propaganda, tanto
política quanto a de produtos, em que aparecem pessoas conhecidas ou
supostamente bem informadas sobre o assunto para afirmar que este ou aquele
produto ou candidato é superior à concorrência.
“Isaac
Newton acreditava em Deus. Você está dizendo que ele estava errado? Você se
considera mais inteligente que Newton?”
4. Argumentum ad hominem (Contra o homem
ou Ataque pessoal)
Da
mesma forma que o apelo à autoridade, essa falácia considera a identidade de
quem fez uma afirmação mais importante do que a afirmação em si. Nesse caso,
afirma-se que uma ideia é errada porque a pessoa que a defendeu é pouco
confiável. Veja abaixo um comentário publicado no Yahoo! criticando o chargista
Alpino. Perceba que o autor desse comentário não apresenta nenhum motivo para
sustentar sua crítica à charge. Na verdade, não dá nem mesmo para saber qual é
o assunto do desenho:
“Olha,
este Alpino é completo Analfabeto funcional, o cara posa de esperto mais é um
completo cabeça vazia, suas charges são as piores que existe. Meu amigo procura
ler coisa boas, jornais conceituados no brasil ainda resta alguns bons ou
melhor vai fazer um curso de economia, direito ou se já é formado vai fazer uma
pós... por que só assim você vai adquirir conhecimento e se for um aluno
esforçado vai fazer charges melhores, se não vai ser mais um Analfabeto
funcional dos tempos de agora.”
Há
basicamente duas formas dessa falácia:
Primeira forma:
encontra uma falha no interlocutor, não necessariamente ligada ao assunto em discussão,
e se foca nessa falha para criticar a argumentação dele:
“Não vou discutir com alguém
que mal sabe português!”
Segunda
forma: afirma que a argumentação
do interlocutor é equivalente à argumentação de alguém amplamente odiado:
“Hitler era vegetariano, e eu não quero me parecer
em nada com Hitler. Logo, não quero ser vegetariano.”
5. Argumentum ad Ignorantiam (Apelo à
ignorância)
Ocorre
quando alguém afirma que o desconhecimento de algo é prova da inexistência
desse algo. Por exemplo, o seguinte raciocínio:
-
Nunca foram vistos seres extraterrestres
-
Logo, não existem seres extraterrestres
é
uma falácia, pois o fato de nunca terem sido avistados seres extraterrestres
não prova sua inexistência, apenas torna impossível provar a existência deles.
Vale
lembrar que a ausência de prova da inexistência não constitui prova da
existência. Ou seja, a impossibilidade de provar que alienígenas não existem
não pode ser usada como evidência de que eles existem.
Essa falácia está intimamente ligada a outra chamada "Mudança do Ônus da Prova". O fato é que é impossível provar que uma coisa não existe. Você pode até provar que ela não está na sua frente, mas não tem como afirmar com certeza que ela não existe em lugar nenhum do universo. Por isso, quando alguém diz que unicórnios existem, a obrigação de provar a existência de unicórnios é de quem fez essa afirmação, e não de quem acredita na inexistência deles. Dizer "prove que não existe" é uma falácia, ironizada na imagem abaixo:
6. Argumentum ad Baculum (Apelo à força)
Acontece quando alguém
recorre à força ou à ameaça para tentar levar alguém a aceitar uma ideia, sem
que a veracidade dessa ideia seja provada.
Exemplos:
“Se a pena de morte não for aprovada, um bandido
vai matar você e toda sua família”.
“Se
você não acredita em Deus, vai queimar no fogo do inferno!"
7. Argumentum
ad Antiquitatem (Apelo à antiguidade)
Essa é a falácia de afirmar
que algo é correto só porque é antigo.
Exemplos:
“Você quer negar 150 anos de
estudos? Quem você pensa que é?”
“A vaquejada é praticada
no Brasil há mais de um século. Nos dias atuais, acontecem
centenas de eventos em todo território nacional, tanto recreativamente como
profissionalmente.”
8. Argumentum ad Novitatem (Apelo à novidade)
Esse é o oposto do Argumentum ad Antiquitatem; consiste em afirmar que algo é
melhor apenas porque é novo. É uma falácia muito usada em publicidade.
“O novo remédio Dorzilex é a
última novidade em tratamento de dores de cabeça.”
9. Argumentum ad Numerum/Argumentum
ad Populum (Apelo à popularidade)
Essa falácia ocorre quando se
acredita que, quanto mais pessoas acreditam em algo, mais provável é esse algo
ser verdadeiro:
“Todo mundo acha que tomar
leite com manga faz mal. Você quer dizer que sabe mais que todo mundo?”
“Mais de 3 mil
pessoas não podem estar erradas em como ganhar dinheiro na internet”
10. Falácia da Bifurcação
Ocorre quando se apresentam
apenas duas alternativas para uma situação, quando na verdade podem existir
várias outras. Por exemplo:
“Ou você é contra o aborto ou
você é um assassino de bebês”
Se você quer poupar o meio ambiente, se mate de uma
vez, assim você zera o impacto ambiental.”
11.
Falácia da Redefinição
Nessa falácia, o autor
atribui uma característica a todos os indivíduos pertencentes a um determinado
grupo. Quando alguém afirma que nem todo indivíduo pertencente ao grupo tem
aquela característica, o autor da falácia retruca dizendo que esse indivíduo
não é um legítimo representante do grupo. Como no seguinte diálogo:
—
Todo brasileiro gosta de samba.
—
Eu sou brasileiro e não gosto de samba.
—
Então você não é um brasileiro de verdade.
Outro
exemplo:
Perceba
que, na imagem acima, o autor afirma que toda mulher é conquistada pelo tamanho
das ideias e não pelo tamanho do braço do homem; logo, a mulher que não se
encaixa nessa definição é uma vadia, não uma mulher. Mas quem deu ao Vitinho o
direito de definir o que é ser uma mulher?
12.
Dicto Simpliciter (Generalização Absoluta)
Essa falácia consiste em
aplicar uma regra a todas as situações, mecanicamente, sem atentar para as
características particulares de cada caso. Por exemplo:
“Todo cristão é intolerante.
Se você é cristão, você é intolerante”.
"Vou ficar aqui esperando, porque quem espera sempre alcança".