Imagine que você é um jornalista que foi contratado pela
produtora de “Xuxa em O Mistério de Feiurinha” para escrever uma resenha
crítica em que haja uma opinião positiva sobre o filme. Esse texto será
publicado no site cinemacomrapadura.com.br (o mesmo em que foi publicada a
crítica abaixo) e deverá dialogar com o
texto de Túlio Moreira, mas ao mesmo tempo deverá ser compreensível para
quem não leu a crítica escrita por ele. Seu
texto deverá ter um título em que
fique clara a visão positiva sobre a
obra.
Xuxa em o Mistério de Feiurinha
O novo filme de Xuxa é mais
do mesmo: rodinha de comadres e desfile de pseudo-atores - 1 estrela (de 10 possíveis)
por Túlio Moreira
O argumento é excelente: as
princesas mais populares dos contos de fadas estão em polvorosa com o sumiço de
Feiurinha. Ninguém mais se lembra da história da personagem
desaparecida – e o esquecimento é equivalente à morte para os seres
que habitam o imaginário fantástico dos livros infantis. Casadas com seus príncipes
encantados e condicionadas ao cotidiano da vida de esposas e mães, as princesas
resolvem partir para o mundo real atrás de alguma pista sobre a trajetória de
Feiurinha, com o objetivo de possibilitar seu retorno à terra da fantasia.
Entregue essa sinopse para qualquer cineasta mediano de Hollywood e teremos um
bom filme para crianças e adultos. Aliás, um filme que continuaria a ideia
propagada por “Shrek”: é preciso revisitar e repensar os contos que
propiciaram o escape e a diversão para muitas gerações de crianças.
Coloque um “Xuxa em” antes
do título e veja toda essa potencialidade sumindo mais rápido que efeito de
poção envenenada. O livro “O Fantástico Mistério de Feiurinha”, escrito
por Pedro Bandeira em 1986, é um questionamento em torno da necessidade de
manter acesa a magia proporcionada pela leitura de histórias como as de
Cinderela, Branca de Neve e Rapunzel, registradas e reimaginadas diversas vezes
por escritores como Charles Perrault, Irmãos Grimm e Hans Christian Andersen,
além de terem recebido alterações e acréscimos vindos das camadas mais
populares da sociedade.
O filme Xuxa em O Mistério de Feiurinha,
supostamente adaptado do livro, é uma desculpa intolerável para que a “rainha
dos baixinhos” (entre outros títulos “baixos” que não precisam ser citados
aqui) desfilasse seus amigos famosos e apresentasse a filha ao público
brasileiro.
Eis aqui um legítimo caso
de nepotismo cinematográfico. Xuxa convoca sua patota de apresentadores,
cantores, ex-namorados e famosos do momento para compor um mise-en-scène absolutamente
afoito com o conteúdo e absurdamente preocupado em dimensionar para as telas do
cinema o ego de personalidades da chamada cultura televisiva brasileira. Se a
temática é interessante por mostrar a rotina das princesas, suas ilusões e conquistas
após o “felizes para sempre”, qualquer chance de desenvolvimento desse contexto
é inútil após os primeiros ataques de estrelismo em cena.
Ignorando a trilha sonora
de videogame (que piora quando surgem as músicas entoadas pela própria Xuxa), a
edição de fundo de quintal e alguns enquadramentos excessivamente fechados, o
filme consegue deixar apenas uma incorrigível sensação de falsidade. Atores de
verdade fazem falta. Por isso mesmo, os únicos momentos mais palatáveis da
história são aqueles protagonizados por Samanta Schmutz (na pele da frustrada
Chapeuzinho Vermelho), Dani Dondo (impagável como a empregada chinesa que fala
como o Cebolinha) e outros poucos profissionais da atuação, que disputam espaço
no tapa com as celebridades globais do momento.
Esse aspecto fake do
filme é elevado a níveis de constrangimento nacional quando Sasha Meneghel faz
seu debut nos cinemas. Ter sido alfabetizada em inglês não é suficiente
para livrá-la da vergonha alheia que sua performance apática provoca no
público despido de vínculos afetivos com Xuxa. E não se trata de fiasco de
iniciante, não. É falta de talento mesmo.
Afora todos esses
problemas, o novo filme de Xuxa fracassa naquela que é, aparentemente, sua
proposta principal. Diferente dos filmes mais antigos da própria Xuxa ou dos
Trapalhões, esse não tem desafios, cenários inóspitos, risco de vida ou
qualquer sinal de perigo mais palpável para as personagens centrais. Todo o
conflito se resolve em uma confortável sala de estar, por meio de e-mails
enviados para “todas as crianças do mundo”. É uma solução escancaradamente
preguiçosa e talvez seja reflexo dos novos tempos, em que tudo pode ser
resolvido sem maiores esforços físicos, por meio de um simples clique. As
crianças e os pais poderiam ser poupados desse conformismo dos tempos virtuais,
pelo menos na hora de assistir a um filme.
O que fica de Xuxa em O Mistério de Feiurinha
é a certeza de que nossa cultura tem potencial de sobra para produzir bons
filmes para o público infanto-juvenil, se houver respeito pela inteligência dos
pequenos e sem subestimar a análise crítica dos mais velhos. A única barreira é
justamente afastar desse processo celebridades oitentistas desconexas com a
nova realidade dessa plateia, acostumada a filmes de sutilezas memoráveis, como
“Toy Story”, “Harry Potter”, “Ponte para Terabítia”, entre
muitos outros casos recentes. Em janeiro, teremos a estreia de “Onde Vivem
os Monstros”. Para os pais que ainda não submeteram os filhos ao novo filme
da Xuxa, fica a dica: esperem mais alguns dias e permitam se deliciar com todo
o encantamento que o trailer do novo filme de Spike Jonze prometeu.
A própria obra de Pedro
Bandeira, figura responsável pela estrela solitária atribuída à nota desse Xuxa em O Mistério de Feiurinha,
poderia ser mais utilizada pelos produtores brasileiros. Afinal, é o sonho de
qualquer criança (e adulto) que já leu algum livro dele ver aquilo tudo na tela
grande. A filmografia nacional já deu provas de que quando o assunto é tratado
com seriedade, conseguimos chegar lá (vide ótimos exemplos como “Menino
Maluquinho”, “Castelo Rá-Tim-Bum” e “Tainá – Uma
Aventura na Amazônia”). Passarei a acreditar em mágica no dia em que Xuxa for afastada
definitivamente da realidade brasileira. Fui. Ninguém merece ver @xuxameneghel nem o anjo dela nos
cinemas.
http://cinemacomrapadura.com.br/
Cícerito, qual é o concurso de redação que você falou na aula mesmo? Estou sem o papel agora e queria escrever, mas não lembro o tema... Thanks :)
ResponderExcluirjá tentei pesquisar os critérios de correção da unicamp e verificar se há valores correspondentes, mas não os encontrei. Você poderia esclarecê-los e me informar se há uma pontuação específica? Obg.
ResponderExcluirAnônimo, desculpe a demora. A Unicamp tem duas grades de correção: uma é a chamada grade específica, que julga se o candidato entendeu bem o tema e escreveu uma redação dentro do gênero solicitado.
ExcluirEssa grade tem três critérios: Propósito, Gênero e Interlocução; a nota de cada um deles pode ser 0 ou 1.
Existe também a grade holística , que julga a qualidade geral do texto (incluindo a adequação gramatical e, se for o caso, a argumentação). Esse critério dá uma nota de 0 a 5.
Com a soma dos critérios, cada redação pode ter uma nota de 0 a 8. São dois corretores, então a nota de cada um deles é multiplicada por 1,5. Assim, temos uma nota final de até 24
pontos por texto. Como são dois textos, a nota final da prova de redação vai de 0 a 48.
Espero ter tirado suas dúvidas mais imediatas.
Abraços.
resenha tem que ter título???
ResponderExcluirprecisa colocar referência????