quarta-feira, 18 de julho de 2012

Falácias, parte 1


Olá a todos. Este é um post já um pouco bastante atrasado sobre um tópico muito importante dentro da argumentação: as falácias
Falácias são argumentos que parecem corretos, que muitas vezes seguem a estrutura de um raciocínio lógico, mas têm alguma falha que os torna inválidos. Ou seja, o uso de uma falácia não prova que o seu autor tem razão, mas ainda assim pode convencer ouvintes pouco atentos.
Se você já se envolveu em uma discussão com alguém, certamente já ouviu ao menos uma falácia (mas talvez não a tenha reconhecido). E nada impede que você já tenha usado várias delas, conscientemente ou não.
Abaixo, vamos ver alguns exemplos de falácias mais comuns.

1. Post Hoc Ergo Propter Hoc (Falsa Causa)

Post Hoc Ergo Propter Hoc significa, literalmente, “Se aconteceu depois, aconteceu por causa de”. Essa falácia ocorre quando um evento sucede o outro e alguém usa esse fato para dizer que o segundo evento foi causado pelo primeiro.
Por exemplo:
- Hoje eu levantei com o pé esquerdo
- Hoje meu dia foi ruim
- Logo, hoje meu dia foi ruim porque eu levantei com o pé esquerdo

Embora pareça haver uma relação entre as duas primeiras proposições, não há prova de que essa relação é causal, ou seja, de que a primeira proposição é a causa da segunda. Outro exemplo comum de falsa causa é o argumento usado por políticos quando fazem afirmações do tipo: “no meu mandato, a inflação diminuiu”. Ao dizer isso, o político quer criar uma relação causal entre seu governo e a queda da inflação, mas nada garante que essa relação exista. Para prová-la, o governante deveria apontar especificamente quais atitudes suas diminuíram a inflação no país.

Um livro muito interessante sobre esse assunto é o Freakonomics, de autoria de Stephen Dubner e Steven Levitt. No livro, os autores mostram que nem sempre dois elementos que aparecem ao mesmo tempo mantêm uma relação de causa e consequência.

Veja outro exemplo, retirado do site Saindo da Matrix (http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2007/08/como_lidar_com.html), sobre um depoimento feito durante um encontro de exorcistas no México:
“No debate, uma mulher tomou o microfone e contou que uma amiga nos EUA tem enfrentado problemas depois que o filho entrou em contato com o personagem: "Desde que o menino começou a ler os livros e assistir aos filmes do Harry Potter, sua família começou a ter muitos problemas: o filho virou homossexual, a filha ficou viciada em drogas e o pai, alcoólatra. E isto é verídico!".

2. Ad Hoc (Causa comum ou Explicação Posterior)

Na causa comum, o que ocorre é que alguém tenta explicar um fato que já ocorreu e, para isso, elege um evento como a possível causa. No entanto, pode ocorrer de essa causa, embora existente, não ser a principal. Por exemplo, frequentemente vemos o argumento de que os criminosos não são culpados por seus atos, já que só seguiram o caminho do crime devido à falta de oportunidade. Porém, uma observação mais racional irá revelar que nem toda pessoa que sofreu com a miséria resolveu se tornar um bandido e que há, por outro lado, criminosos que tiveram acesso a muitas oportunidades. Portanto, embora a miséria de um ladrão possa ser uma das causas de seus atos, certamente há outras causas que devem ser consideradas.
Outro exemplo (retirado do site do jornal O Estado de SP):
Hugo Chávez culpa capitalismo por enchentes

O presidente da Venezuela Hugo Chávez culpou no domingo o capitalismo "criminoso" por fenômenos climáticos globais, incluindo chuvas incessantes que trouxeram o caos ao país, matando 32 pessoas e deixando 70 mil desabrigados. (...) "O desequilíbrio ambiental que o capitalismo causou é sem dúvida a causa fundamental desses fenômenos atmosféricos alarmantes", ele escreveu em sua coluna de opinião semanal. (...)
Apesar de o discurso de Chávez sempre angariar algum apoio, a Venezuela não parece bom candidato a herói ambiental considerando que o país é um grande exportador de petróleo e sua sociedade é notoriamente consumista.

3. Argumentum ad Verecundiam (Apelo à autoridade)

Consiste em considerar um argumento verdadeiro apenas devido à pessoa que o proferiu, sem analisar o argumento em si. É um recurso muito usado em propaganda, tanto política quanto a de produtos, em que aparecem pessoas conhecidas ou supostamente bem informadas sobre o assunto para afirmar que este ou aquele produto ou candidato é superior à concorrência.
“Isaac Newton acreditava em Deus. Você está dizendo que ele estava errado? Você se considera mais inteligente que Newton?”

4. Argumentum ad hominem (Contra o homem ou Ataque pessoal)

Da mesma forma que o apelo à autoridade, essa falácia considera a identidade de quem fez uma afirmação mais importante do que a afirmação em si. Nesse caso, afirma-se que uma ideia é errada porque a pessoa que a defendeu é pouco confiável. Veja abaixo um comentário publicado no Yahoo! criticando o chargista Alpino. Perceba que o autor desse comentário não apresenta nenhum motivo para sustentar sua crítica à charge. Na verdade, não dá nem mesmo para saber qual é o assunto do desenho:
“Olha, este Alpino é completo Analfabeto funcional, o cara posa de esperto mais é um completo cabeça vazia, suas charges são as piores que existe. Meu amigo procura ler coisa boas, jornais conceituados no brasil ainda resta alguns bons ou melhor vai fazer um curso de economia, direito ou se já é formado vai fazer uma pós... por que só assim você vai adquirir conhecimento e se for um aluno esforçado vai fazer charges melhores, se não vai ser mais um Analfabeto funcional dos tempos de agora.”
Há basicamente duas formas dessa falácia:
Primeira forma: encontra uma falha no interlocutor, não necessariamente ligada ao assunto em discussão, e se foca nessa falha para criticar a argumentação dele:
“Não vou discutir com alguém que mal sabe português!”
Segunda forma: afirma que a argumentação do interlocutor é equivalente à argumentação de alguém amplamente odiado:
“Hitler era vegetariano, e eu não quero me parecer em nada com Hitler. Logo, não quero ser vegetariano.”

5. Argumentum ad Ignorantiam (Apelo à ignorância)

Ocorre quando alguém afirma que o desconhecimento de algo é prova da inexistência desse algo. Por exemplo, o seguinte raciocínio:

- Nunca foram vistos seres extraterrestres
- Logo, não existem seres extraterrestres

é uma falácia, pois o fato de nunca terem sido avistados seres extraterrestres não prova sua inexistência, apenas torna impossível provar a existência deles.
Vale lembrar que a ausência de prova da inexistência não constitui prova da existência. Ou seja, a impossibilidade de provar que alienígenas não existem não pode ser usada como evidência de que eles existem.

Essa falácia está intimamente ligada a outra chamada "Mudança do Ônus da Prova".  O fato é que é impossível provar que uma coisa não existe. Você pode até provar que ela não está na sua frente, mas não tem como afirmar com certeza que ela não existe em lugar nenhum do universo. Por isso, quando alguém diz que unicórnios existem, a obrigação de provar a existência de unicórnios é de quem fez essa afirmação, e não de quem acredita na inexistência deles. Dizer "prove que não existe" é uma falácia, ironizada na imagem abaixo:



 6.    Argumentum ad Baculum (Apelo à força)

Acontece quando alguém recorre à força ou à ameaça para tentar levar alguém a aceitar uma ideia, sem que a veracidade dessa ideia seja provada.
Exemplos:
“Se a pena de morte não for aprovada, um bandido vai matar você e toda sua família”.
“Se você não acredita em Deus, vai queimar no fogo do inferno!"
 
 7.    Argumentum ad Antiquitatem (Apelo à antiguidade)
Essa é a falácia de afirmar que algo é correto só porque é antigo.
Exemplos:
“Você quer negar 150 anos de estudos? Quem você pensa que é?”
“A vaquejada é praticada no Brasil há mais de um século. Nos dias atuais, acontecem centenas de eventos em todo território nacional, tanto recreativamente como profissionalmente.” 

8.    Argumentum ad Novitatem (Apelo à novidade)

Esse é o oposto do Argumentum ad Antiquitatem; consiste em afirmar que algo é melhor apenas porque é novo. É uma falácia muito usada em publicidade.
“O novo remédio Dorzilex é a última novidade em tratamento de dores de cabeça.” 

9.    Argumentum ad Numerum/Argumentum ad Populum (Apelo à popularidade)

Essa falácia ocorre quando se acredita que, quanto mais pessoas acreditam em algo, mais provável é esse algo ser verdadeiro:
“Todo mundo acha que tomar leite com manga faz mal. Você quer dizer que sabe mais que todo mundo?”
 “Mais de 3 mil pessoas não podem estar erradas em como ganhar dinheiro na internet” 

10. Falácia da Bifurcação

Ocorre quando se apresentam apenas duas alternativas para uma situação, quando na verdade podem existir várias outras. Por exemplo:
“Ou você é contra o aborto ou você é um assassino de bebês”
Se você quer poupar o meio ambiente, se mate de uma vez, assim você zera o impacto ambiental.” 

11. Falácia da Redefinição
 
Nessa falácia, o autor atribui uma característica a todos os indivíduos pertencentes a um determinado grupo. Quando alguém afirma que nem todo indivíduo pertencente ao grupo tem aquela característica, o autor da falácia retruca dizendo que esse indivíduo não é um legítimo representante do grupo. Como no seguinte diálogo:
— Todo brasileiro gosta de samba.
— Eu sou brasileiro e não gosto de samba.
— Então você não é um brasileiro de verdade.

Outro exemplo:



Perceba que, na imagem acima, o autor afirma que toda mulher é conquistada pelo tamanho das ideias e não pelo tamanho do braço do homem; logo, a mulher que não se encaixa nessa definição é uma vadia, não uma mulher. Mas quem deu ao Vitinho o direito de definir o que é ser uma mulher?

 12. Dicto Simpliciter (Generalização Absoluta)

Essa falácia consiste em aplicar uma regra a todas as situações, mecanicamente, sem atentar para as características particulares de cada caso. Por exemplo:
“Todo cristão é intolerante. Se você é cristão, você é intolerante”.
"Vou ficar aqui esperando, porque quem espera sempre alcança".



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