segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A Redação na Unicamp 2012: Gênero 3 – Verbete

http://www.comvest.unicamp.br/vest2012/F1/f12012QZ.pdf

Finalmente o terceiro e mais inesperado dos gêneros da Unicamp 2012: o verbete. Novamente o desespero poderia tomar conta de quem lesse o tema e começasse a pensar no número de verbetes que escreveu durante a vida (meu palpite: zero). Era possível deduzir as características do tema pela leitura atenta da proposta, mas, infelizmente, desta vez o texto usado para contextualizar o gênero trouxe mais dúvidas que informações úteis. Observe:

Imagine-se na posição de um leigo em informática que, ao ler a matéria Cabeça nas nuvens, reproduzida abaixo, decide buscar informações sobre o que chamam de computação em nuvem. Após conversar com usuários de computador e ler vários textos sobre o assunto (alguns dos quais reproduzidos abaixo em I, II e III), você conclui que o conceito é pouco conhecido e resolve elaborar um verbete para explicá-lo. Nesse verbete, que será publicado em uma enciclopédia on-line destinada a pessoas que não são especializadas em informática, você deverá:

• definir computação em nuvem, fornecendo dois exemplos para mostrar que ela já está presente em atividades realizadas cotidianamente pela maioria dos usuários de computador;

• apresentar uma vantagem e uma desvantagem que a aplicação da computação em nuvem poderá ter em um futuro próximo.

Fica claro, pela leitura da proposta, que o propósito do verbete é definir o conceito de computação em nuvem. O fato de ele ser destinado à publicação em uma enciclopédia também ajuda a entender do que se trata o gênero. Porém, o trecho narrativo antes da proposta, que menciona o fato de o autor ser um leigo em informática, pode confundir algumas pessoas; afinal, normalmente as informações que aparecem na proposta de Redação da Unicamp devem ser explicitamente mencionadas no texto escrito pelo autor (especialmente as que estão em negrito). Isso significa que o verbete deveria dizer “eu sou um leigo em informática e resolvi escrever este texto para explicar a computação em nuvem, que é um conceito de informática”? Não faria sentido. Então, concluímos que toda a história sobre como o autor teve a ideia de escrever o texto pode ser desconsiderada no texto final.

Os principais argumentos para sustentar que o verbete não deve conter referências ao autor, especialmente referências ao fato de ele ser leigo, são os seguintes:

1 – o gênero verbete, sendo informativo, deve ser também objetivo, ou seja, ter foco na informação e não nas impressões e características individuais de quem escreve;

2 – o autor do texto, que era um leigo em informática, resolveu se informar sobre o assunto antes de escrever seu verbete. Quando ele finalmente escreve, portanto, podemos dizer que ele não é mais um completo leigo.

Portanto, temos aqui um texto informativo, com um autor impessoal. Some-se a isso o fato de o tema pedir não apenas uma definição, mas também dois exemplos, uma vantagem e uma desvantagem, e percebemos que o gênero está muito próximo de uma dissertação expositiva. Faz sentido, na verdade, que a Unicamp sempre coloque na prova um texto próximo à dissertação: afinal, muitos estudantes conhecem apenas esse tipo de texto, que é o mais trabalhado nas escolas, e seria injusto não dar a esses estudantes nenhuma oportunidade de aplicar seu conhecimento. Assim, a presença de um texto que é praticamente uma dissertação em todas as provas da Unicamp faz com que o candidato que só conhece esse tipo de texto tenha uma nota melhor que a de quem não conhece nenhum gênero, mas também faz com que esse aluno especializado consiga na soma das redações menos pontos que um candidato capaz de produzir textos em gêneros diversos.

Imagino que essa característica vá se modificar um dia, mas, por enquanto, percebo uma tendência da Unicamp a pedir, em toda prova, que se produza um texto dissertativo: no simulado de 2010, foi o editorial; no vestibular 2011, o artigo de opinião; agora, temos esse verbete como representante.

Supondo que você tenha concluído corretamente sobre a impessoalidade do gênero verbete, o restante é bem simples, praticamente uma paráfrase dos textos de apoio. É necessário, em primeiro lugar, definir o termo. Basta, para isso, encontrar as informações nos textos motivadores e formulá-las como uma definição. Ficaria algo assim:

“Computação em nuvem: sistema de computação em que o usuário não tem todo o equipamento em sua casa, mas usa equipamentos e programas que se localizam em outro local e são acessados por meio da internet.”

Tentei usar uma linguagem mais simples, sem termos como hardware, software e hospedagem, para atender a um outro aspecto do tema: o interlocutor, que é definido no tema como pessoas que não são especializadas em informática. Embora seja possível alguém concluir que deveria se dirigir ao leitor de forma explícita, o gênero verbete não tem essa característica (e, para ajudar a lembrar disso, o candidato poderia buscar na memória as vezes que leu uma enciclopédia). No entanto, como o verbete deveria ser publicado em uma enciclopédia on-line, que é um meio muito recente e com características ainda em processo de consolidação, não seria absurdo a Unicamp considerar as redações que usassem interlocução.

Além da definição, deveria haver dois exemplos de situações cotidianas em que a computação em nuvem é usada. Um exemplo muito explícito, o funcionamento dos provedores de e-mail, está no excerto II da coletânea:

Se você tem uma conta de e-mail com um serviço baseado na web, como Hotmail, Yahoo! ou Gmail, então você já teve experiência com computação em nuvem. Em vez de rodar um programa de e-mail no seu computador, você se loga numa conta de e-mail remotamente pela web.

(aí está mais uma indicação de que o gênero verbete não deveria ter interlocução; caso contrário, parte dele se tornaria uma cópia exata do texto motivador)

O outro exemplo é um pouco mais difícil de identificar, mas eu escolheria o disco virtual, ou seja, um espaço que permite guardar arquivos em um provedor remoto e que é citado no texto “Cabeça nas Nuvens”:

Diogo desenvolveu o Escola na nuvem (escolananuvem.com.br), um portal em que estudantes e professores se cadastram e podem armazenar e trocar conteúdos, como o trabalho de matemática ou os tópicos da aula anterior. As informações ficam em um disco virtual, sempre disponíveis para consulta via web.

Quanto à vantagem e a desvantagem, é possível encontrar ambas com facilidade; a vantagem, que está descrita no excerto II, pode ser parafraseada como “a possibilidade de usar programas em vários computadores sem ter que adquirir e instalar várias cópias desse programa”:

Em breve, deve haver uma alternativa para executivos como você. Em vez de instalar uma suíte de aplicativos em cada computador, você só teria de carregar uma aplicação. Essa aplicação permitiria aos trabalhadores logar-se em um serviço baseado na web que hospeda todos os programas de que o usuário precisa para o seu trabalho. Máquinas remotas de outra empresa rodariam tudo – de e-mail a processador de textos e a complexos programas de análise de dados. Isso é chamado computação em nuvem e poderia mudar toda a indústria de computadores.

Como desvantagem, poderia ser citado o risco de se perder a conexão com a internet, ou até mesmo problemas de segurança relacionados ao fato de as informações de uma empresa, por exemplo, estarem hospedadas em poder de outra empresa. O excerto III se dedica justamente a mencionar esses aspectos possivelmente negativos:

A simples ideia de determinadas informações ficarem armazenadas em computadores de terceiros (no caso, os fornecedores de serviço), mesmo com documentos garantindo a privacidade e o sigilo, preocupa pessoas, órgãos do governo e, principalmente, empresas. Além disso, há outras questões, como o problema da dependência de acesso à internet: o que fazer quando a conexão cair?

Quanto à linguagem, vamos reforçar aqui o que já foi dito acima: sabendo que o público não é especializado em informática, o mais importante é evitar o uso de termos técnicos. Mas a formalidade deve estar presente, da mesma forma que nos outros dois gêneros.

Portanto, o gênero verbete, ainda que pareça estranho à primeira vista, acaba por se revelar bastante simples. Ainda acredito que a Unicamp poderia ter deixado de lado a historinha que explicava a gênese da ideia de escrever um verbete sobre computação em nuvem, mas talvez a intenção tenha sido justamente a de valorizar uma leitura ainda mais profunda, capaz de diferenciar os elementos fundamentais do gênero daqueles que só apareceram como contexto.

E você, o que achou da prova? Comente aqui.

Na próxima oportunidade, vamos conversar sobre o famigerado projeto de texto. Até lá.

13 comentários:

  1. Olá, Cícero!
    Devo dizer que fiquei um pouco preocupada em como deixar explícito que era um verbete para leitores leigos, por fim decidi não fazê-lo e quase me arrependi. Fiquei aliviada em ler que não era necessário!
    Sobre o gênero leio muito enciclopédias virtuais, por "diversão" digamos (isso é quase triste) como a Wikipédia por exemplo (só a Wikipédia na verdade), e isso me ajudou muito. Economizei tempo e me pareceu o gênero mais fácil e simples. Acredito que essa vantagem não foi só minha. Quase todas as pessoas fazem suas pesquisas pela enciclopédia citada, e se tiveram a mínima curiosidade de ler ao invés de Ctrl+c e Ctrl+v provavelmente tiveram uma boa noção de como deveria ser escrito.
    Fiquei um pouco receosa ao ver sua definição de "internet de nuvem", defini-a de uma maneira diferente e mais abrangente. Acha que tem algum problema nisso?

    Beijos.
    Natali Baltieri (Elite - Vital Brasil)

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  2. Oi, Natali. Acho que você cumpriu bem a proposta, lembrando que a analise aqui não tem respaldo da Unicamp, representa só a minha visão, ok? Sobre a definição, não se preocupe. A minha foi um exemplo apenas para mostrar o que significa "definir" um conceito. Abraços e até breve.

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  3. Olá Cícero, Parabéns pelo blog, muito bom. Tô com uma dúvida e quero saber se pode me ajudar. Eu estava escrevendo o verbete, e fiz um preve introdução dele, dizendo que era leigo em informático, mas vinha lendo sobre o tema de computação em nuvem e resolvi escrever nessa enciclopedia o verbete abaixo.
    Porém, no final desse parágrafo, eu escrevi que tal enciclopedia é pra PESSOAS ESPECIALIZADAS, acabei esquecendo de colocar o NÃO ESPECIALIZADAS.
    Isso acarretaria na anulação da minha redação?

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  4. Oi, Marcelinho. Na verdade, á complicado ter a redação anulada na Unicamp. Para isso acontecer, você teria que tirar zero em 3 critérios: Propósito, Interlocução e Gênero. Acredito que essa introdução que você criou pode zerar apenas em Gênero. Já o fato de você falar que o texto é para pessoas especializadas não deve pesar muito, a não ser que você também tenha usado uma linguagem que pessoas leigas teriam dificuldade para entender.
    Abraço.

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  5. quanto ao gênero, eu apenas fiz uma pequena introdução, relatando que era leigo em informática e que achei interessante compartilhar na enciclopedia on-line a informação sobre computação em nuvem que li em outros textos, como estava escrito na coletânea. No verbete que escrevi logo em seguida, coloquei a definição e demonstrei as vantagens e desvantagens de tal tecnologia.

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  6. Fiz parecido com o Marcelinho e torço pra que a unicamp receba muitas redações assim. Escrever um verbete desse não pressupõe que você era/é um leigo, diferente da questão escrever um editoral = ser escritor para o jornal. Além do que, existem vários tipos de enciclopédias na internet que não são a lá 'wikipédia'...

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  7. Tenho certeza de que a Unicamp recebeu milhares de redações com essa introdução, porque o tema dava a entender que ela era necessária.

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  8. Exatamente, eu fiz essa introdução para explicar que era leigo no assunto e que estava postando tal verbete em uma enciclopedia Online, assim como pedia a proposta.
    Achei melhor fazer isso, já que no verbete não era possível.
    Acredito que a Unicamp não vai anular e nem retirar pontos.

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  9. ah eu no final coloquei que a computação em nuvens é uma promessa prodiga para o futuro. isso pode me fazer perder pontos por pessoalidade?

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  10. Acredito que não. Eu diria que esse comentário fica, em termos de pessoalidade, no mesmo nível da apresentação de vantagens e desvantagens da computação em nuvem.

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  11. Olá Cícero,tudo bem?
    Ainda estou com dúvida neste gênero textual "verbete",pois gostaria que você desse um exemplo de um texto completo!
    Desde já agradeço!

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  12. resumindo pode ou não colocar título no verbete?

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  13. Exemplo de verbete acima da média:

    http://www.comvest.unicamp.br/vest_anteriores/2013/download/comentadas/redacao.pdf (página 14)

    Como vocês vão poder conferir, podia colocar título no verbete, mas não era obrigatório. O título deveria ser neutro, como "computação em nuvem".

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