Antes de explicar como funciona a introdução do texto dissertativo, vamos deixar
uma coisa bem clara: não existe uma forma única e imutável de se organizar uma dissertação. Quando alguém mostra exemplos de introduções,
desenvolvimentos e conclusões, está apenas citando formas que já foram usadas e
funcionaram em algum momento. Ninguém é obrigado a copiá-las exatamente como
elas aparecem, mas é interessante observar quais as
características que as levaram a ser usadas tantas vezes.
A tese deve aparecer na introdução?
Muitos professores defendem que a
introdução de um texto dissertativo deve conter a tese, ou seja, a
opinião do autor acerca do tema. No entanto, é errado encarar essa
apresentação da tese no início do texto como algo obrigatório. Muitos
textos publicados em vestibulares concorridos, como Unicamp, Fuvest e
Puccamp, apresentam a tese apenas na conclusão do texto. Eu
defendo o seguinte: a tese no início do texto é algo mais adequado para
dissertações expositivas e de temas abstratos, enquanto as dissertações
argumentativas e com temas mais concretos se beneficiam da presença da
tese apenas na conclusão.
O motivo é simples: a tese de uma
dissertação tende a ser o momento mais discutível, mais autoral, do
texto. Se uma tese for colocada no início da redação e não for aceita
pelo leitor (o que é sempre possível, especialmente porque ainda não foi
dado nenhum argumento para sustentá-la), todo o poder de convencimento
da redação ficará comprometido. É como se o leitor se "armasse" de
antemão contra os argumentos que vai encontrar na sequência. Você já
deve ter passado por isso: ao ver um debate em que um dos participantes
defende uma posição contrária à sua, você provavelmente já começou a
ouvir os argumentos dele com uma ponta de preconceito, pensando algo do
tipo "aposto que ele vai falar um monte de baboseira".
"OK", você pode estar pensando, "mas então o que sobra para a introdução????"
Um bom começo
seria pensar na função dessa etapa em uma dissertação. Imagine que seu leitor
acaba de pegar seu texto e vai lê-lo. Ele provavelmente não é adivinho e terá
dificuldades para imaginar qual é o assunto que você pretende discutir. Por
isso, podemos dizer que a introdução de um texto dissertativo tem a função de apresentar
ao leitor o tema discutido. Assim, é comum que no início de um texto
seja feita uma breve exposição do assunto, antes de passarmos para a
argumentação propriamente dita. Veja o exemplo a seguir:
Os usuários de drogas ilícitas somam 185 milhões em
todo o mundo, ou seja, três pessoas em cada cem usam, consomem algum tipo de
substância ilegal. O número de fumantes é dez vezes maior: trinta em cada cem
pessoas usam tabaco. Isso quer dizer que, se legalizadas, as drogas hoje
ilícitas seriam consumidas por dez vezes mais pessoas? Não se sabe ao certo.
Mas os números mostram que a legalização das drogas deve ser discutida de forma
responsável.
Note que, no trecho acima, o
autor ainda não explicitou sua opinião, mas já deixou claro que vai discutir o
assunto drogas em seu texto. Mais especificamente, que vai discutir a
proposta recorrente de legalização das drogas. Sabendo disso, o leitor vai
acompanhar o texto com mais facilidade.
Deixar claro o tema sobre o qual se vai falar é a função
primordial de qualquer introdução de texto dissertativo. Claro que essa função pode
ser cumprida de muitas formas diferentes, mas isso nós veremos em posts futuros. Até breve.