Já
mencionei mais de uma vez a importância de fazer um projeto de texto
antes de escrever qualquer redação. No caso de uma dissertação, o
primeiro passo desse projeto é elaborar a tese.
Agora, vou detalhar um pouco mais esse processo de elaborar a tese
para um texto dissertativo.
1.
O que é a tese?
Em
primeiro lugar, a tese é a opinião do autor sobre o tema.
Leia a proposta e se pergunte: “o que eu acho disso?”. É
provável que a resposta a que você vai chegar possa ser usada como
tese no seu texto. Por exemplo, se o tema é maioridade penal e
você acha que essa medida é positiva (você acredita que ela
vai diminuir a violência, por exemplo), sua tese pode ser “a
maioridade penal deve ser reduzida no Brasil”.
Em
segundo lugar, a tese é a ideia a ser defendida durante o texto.
Isso quer dizer que, em uma dissertação argumentativa, todas as
ideias servem para fazer a tese parecer mais verdadeira. Imagine, por
exemplo, uma redação que contenha as duas ideias a seguir:
- a publicidade pode levar ao consumismo;
- a publicidade infantil deve ser regulamentada.
Qual
delas tema a maior probabilidade de ser a tese? Se você respondeu a
segunda, muito bem. Mas por quê? Por um motivo simples: qualquer uma
das duas ideias poderia ser usada como tese em um texto
dissertativo-argumentativo. No entanto, eu disse antes que ambas as
ideias estão presentes no mesmo texto. Nesse caso, nós devemos
levar em conta que a primeira ideia serve como uma forma de provar a
segunda (o fato de a publicidade levar ao consumismo é um motivo
para que ela seja regulamentada). Logo, a segunda é a tese; a
primeira é um argumento.
Por
fim, toda tese deve ter o formato de uma oração declarativa.
A tese deve ter um sintagma verbal (caso contrário, não é uma
oração) e deve fazer uma afirmação ou uma negação.
Veja os exemplos abaixo:
- “A natureza” - não é uma tese (não é uma oração)
- “Defender a natureza” - não é uma tese (não tem um sintagma verbal; embora tenha um verbo, ele está em uma forma nominal, o infinitivo)
- “É preciso defender a natureza?” - não é uma tese (é uma oração, mas é interrogativa, não declarativa)
- “É preciso defender a natureza” - é uma tese (finalmente!)
Resumindo
até agora: se você escrever uma oração declarativa que
contenha sua opinião sobre o tema e que possa ser defendida
com argumentos, então você tem uma tese.
2.
Existem teses certas e teses erradas?
Resposta
curta: não! Resposta longa: uma ideia muito difundida entre
estudantes é a de que os corretores dos grandes vestibulares
brasileiros esperam uma determinada opinião das redações e, por
isso, defender uma tese diferente da esperada pela banca levaria o
candidato a ser penalizado. Em vestibulares sérios, isso
simplesmente não é verdade. Ou seja, não há teses corretas nem
erradas: qualquer opinião pode ser defendida, desde que haja no
texto argumentos fortes e bem construídos para tal.
Uma
exceção parcial é o ENEM: nessa prova, os corretores são
orientados a levar em conta o respeito aos direitos humanos. O
problema é que não fica muito claro quais direitos devem ser
priorizados quando houver um conflito. Um exemplo é a eterna
polêmica do aborto: deve prevalecer o direito do feto à vida ou o
direito da mãe à escolha? Qual dessas opções respeita os direitos
humanos?
Felizmente,
o ENEM não tem o costume de colocar os alunos nesse tipo de sinuca.
Na maioria dos casos, fica claro o tipo de tese que não deve ser
defendida: evite sugestões muito radicais, como expulsar todos os
imigrantes do país ou punir motoristas alcoolizados com a pena de
morte.
3.
Existem teses boas e teses ruins?
Resposta
curta: sim! Resposta longa: quando você escreve uma
dissertação para uma prova, mais importante do que mostrar que você
tem razão em uma tese específica é mostrar que você sabe
argumentar. Se você escolher uma tese muito óbvia, pertencente ao
senso comum, talvez até consiga demonstrar, sem sombra de dúvida,
que ela está correta (se sua tese é “a violência é ruim”,
poucas pessoas irão discordar).
No
entanto, defender uma tese óbvia não dá a oportunidade de mostrar
toda a sua capacidade argumentativa. Portanto, uma tese boa não pode
pertencer ao senso comum. Não pode ser óbvia, vaga ou uma mera
reprodução da sabedoria popular. Precisa ser algo que mostre uma
análise mais aprofundada do assunto, que revele um conhecimento
maior que o da média sobre o tema. Por exemplo, suponha o tema
“mobilidade urbana”:
Tese
ruim: a mobilidade urbana é importante.
Tese
melhor: a mobilidade urbana deve ser garantida por meio de
investimentos em transporte público de qualidade.
A
segunda tese é melhor que a primeira porque é mais específica e
demonstra que o autor pensou sobre o assunto. Não é necessariamente
uma tese perfeita (não existe isso), mas já permite um trabalho de
argumentação melhor.
Conclusão:
Uma tese é uma oração declarativa, contendo sua opinião
sobre o tema e que será defendida com argumentos;
qualquer opinião pode ser usada como tese, mas é importante
que ela não fique presa ao senso comum.
Se
você está estudando redação, comece a praticar escrevendo algumas
teses. Em breve, vou detalhar mais esse assunto, mostrando quatro
tipos de tese que você pode escrever.