domingo, 26 de julho de 2015

Como elaborar uma tese para a dissertação argumentativa



Já mencionei mais de uma vez a importância de fazer um projeto de texto antes de escrever qualquer redação. No caso de uma dissertação, o primeiro passo desse projeto é elaborar a tese. Agora, vou detalhar um pouco mais esse processo de elaborar a tese para um texto dissertativo.

1. O que é a tese?

Em primeiro lugar, a tese é a opinião do autor sobre o tema. Leia a proposta e se pergunte: “o que eu acho disso?”. É provável que a resposta a que você vai chegar possa ser usada como tese no seu texto. Por exemplo, se o tema é maioridade penal e você acha que essa medida é positiva (você acredita que ela vai diminuir a violência, por exemplo), sua tese pode ser “a maioridade penal deve ser reduzida no Brasil”.
Em segundo lugar, a tese é a ideia a ser defendida durante o texto. Isso quer dizer que, em uma dissertação argumentativa, todas as ideias servem para fazer a tese parecer mais verdadeira. Imagine, por exemplo, uma redação que contenha as duas ideias a seguir:

  • a publicidade pode levar ao consumismo;
  • a publicidade infantil deve ser regulamentada.
Qual delas tema a maior probabilidade de ser a tese? Se você respondeu a segunda, muito bem. Mas por quê? Por um motivo simples: qualquer uma das duas ideias poderia ser usada como tese em um texto dissertativo-argumentativo. No entanto, eu disse antes que ambas as ideias estão presentes no mesmo texto. Nesse caso, nós devemos levar em conta que a primeira ideia serve como uma forma de provar a segunda (o fato de a publicidade levar ao consumismo é um motivo para que ela seja regulamentada). Logo, a segunda é a tese; a primeira é um argumento.

Por fim, toda tese deve ter o formato de uma oração declarativa. A tese deve ter um sintagma verbal (caso contrário, não é uma oração) e deve fazer uma afirmação ou uma negação. Veja os exemplos abaixo:

  • A natureza” - não é uma tese (não é uma oração)
  • Defender a natureza” - não é uma tese (não tem um sintagma verbal; embora tenha um verbo, ele está em uma forma nominal, o infinitivo)
  • É preciso defender a natureza?” - não é uma tese (é uma oração, mas é interrogativa, não declarativa)
  • É preciso defender a natureza” - é uma tese (finalmente!)
Resumindo até agora: se você escrever uma oração declarativa que contenha sua opinião sobre o tema e que possa ser defendida com argumentos, então você tem uma tese.

2. Existem teses certas e teses erradas?

Resposta curta: não! Resposta longa: uma ideia muito difundida entre estudantes é a de que os corretores dos grandes vestibulares brasileiros esperam uma determinada opinião das redações e, por isso, defender uma tese diferente da esperada pela banca levaria o candidato a ser penalizado. Em vestibulares sérios, isso simplesmente não é verdade. Ou seja, não há teses corretas nem erradas: qualquer opinião pode ser defendida, desde que haja no texto argumentos fortes e bem construídos para tal.

Uma exceção parcial é o ENEM: nessa prova, os corretores são orientados a levar em conta o respeito aos direitos humanos. O problema é que não fica muito claro quais direitos devem ser priorizados quando houver um conflito. Um exemplo é a eterna polêmica do aborto: deve prevalecer o direito do feto à vida ou o direito da mãe à escolha? Qual dessas opções respeita os direitos humanos?

Felizmente, o ENEM não tem o costume de colocar os alunos nesse tipo de sinuca. Na maioria dos casos, fica claro o tipo de tese que não deve ser defendida: evite sugestões muito radicais, como expulsar todos os imigrantes do país ou punir motoristas alcoolizados com a pena de morte.

3. Existem teses boas e teses ruins?

Resposta curta: sim! Resposta longa: quando você escreve uma dissertação para uma prova, mais importante do que mostrar que você tem razão em uma tese específica é mostrar que você sabe argumentar. Se você escolher uma tese muito óbvia, pertencente ao senso comum, talvez até consiga demonstrar, sem sombra de dúvida, que ela está correta (se sua tese é “a violência é ruim”, poucas pessoas irão discordar).

No entanto, defender uma tese óbvia não dá a oportunidade de mostrar toda a sua capacidade argumentativa. Portanto, uma tese boa não pode pertencer ao senso comum. Não pode ser óbvia, vaga ou uma mera reprodução da sabedoria popular. Precisa ser algo que mostre uma análise mais aprofundada do assunto, que revele um conhecimento maior que o da média sobre o tema. Por exemplo, suponha o tema “mobilidade urbana”:

Tese ruim: a mobilidade urbana é importante.

Tese melhor: a mobilidade urbana deve ser garantida por meio de investimentos em transporte público de qualidade.

A segunda tese é melhor que a primeira porque é mais específica e demonstra que o autor pensou sobre o assunto. Não é necessariamente uma tese perfeita (não existe isso), mas já permite um trabalho de argumentação melhor.

Conclusão: Uma tese é uma oração declarativa, contendo sua opinião sobre o tema e que será defendida com argumentos; qualquer opinião pode ser usada como tese, mas é importante que ela não fique presa ao senso comum.


Se você está estudando redação, comece a praticar escrevendo algumas teses. Em breve, vou detalhar mais esse assunto, mostrando quatro tipos de tese que você pode escrever.

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