quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Projeto de Texto Dissertativo Parte 1: Elementos da Dissertação


Ano novo, vida nova... se alguma de suas resoluções para 2012 inclui melhorar a sua escrita, este post pode se um bom lugar para começar. Vou explicar, como prometido já há algum tempo, o funcionamento um projeto de texto. Não é possível, na verdade, falar de todos os projetos de texto em um mesmo post, por isso resolvi começar com o tipo de texto mais pedido em provas e vestibulares: a dissertação argumentativa.

Para começar, é fundamental saber quais são as características do texto que você vai escrever, especialmente o propósito. No caso da dissertação, sabemos que é um texto argumentativo, ou seja, que apresenta argumentos em defesa de uma tese. Podemos dizer, portanto, que o propósito da dissertação é provar uma tese, ou seja, convencer o leitor de que a opinião do autor é verdadeira. Os argumentos são as justificativas para a tese: os motivos que o autor tem para acreditar que a tese é verdadeira.

Embora seja mais comum usar o termo argumentação para falar sobre o processo de defender uma opinião, há um outro elemento que tem a mesma função: a informação. A diferença é que o argumento sempre envolve um julgamento, enquanto a informação é verificável objetivamente.

Vamos exemplificar: imagine que você está acompanhado de alguns amigos e todos se dirigem ao mesmo local. Digamos, no espírito das férias de verão, que estão todos indo à praia, a pé. Você e um de seus amigos conhecem a cidade, mas os outros não. Você percebe que a praia está muito longe, que o sol está muito forte e que vocês vão todos derreter antes de chegar ao mar. Então, você elabora uma tese: “a gente devia tomar um ônibus”. 

Por que isso é uma tese? Porque é sua opinião e porque você vai tentar provar para seus amigos que ela é verdadeira. Tudo o que você fizer nos próximos minutos deve ter esse propósito em vista: convencer outras pessoas a ir à praia de ônibus, e não a pé.

Se você falar “vamos de ônibus” e todos concordarem, ótimo. Mas quem já teve que tomar decisões em grupo sabe que a vida raramente é tão simples. Portanto, vamos supor que o seu amigo que também conhece a cidade diz algo do tipo “não vale a pena, vamos a pé mesmo.” Agora, você vai ter que argumentar, ou seja, justificar sua opinião. Algumas possibilidades:

- a praia fica muito longe
- o sol está muito forte
- vamos economizar tempo indo de ônibus

Cada uma dessas novas ideias é um argumento, pois todas têm como meta provar a opinião original. Você pode escolher algumas ou usar todas: depende de variáveis como quanto tempo você pretende gastar na discussão, quem é o seu público e quais são os contra-argumentos que podem aparecer.

Digamos que você use o argumento “a praia fica muito longe”. Mas seu amigo, que é maratonista, diz: “é nada, fica ali pertinho”. Nesse caso, a argumentação chegou a um impasse, pois seus outros amigos não sabem em quem acreditar. Mas a verdade é que os conceitos de ‘perto’ e ‘longe’ são muito dependentes de julgamento. Isso quer dizer que uma pessoa pode achar que um lugar está perto e outra achar que o mesmo lugar está muito longe. Não há como, portanto, resolver a questão sem usar um recurso diferente. Você pode dar um novo argumento ou pode reforçar seu argumento original com uma informação. Vamos optar pela segunda alternativa.

Uma informação, ao contrário de um argumento, não envolve julgamento. Ela pode ser verificada objetivamente, sem depender da opinião de ninguém. Você diz, por exemplo: “a praia fica a 10 km”. Agora, você reforçou seu argumento, porque tem um fato para sustentá-lo. É provável que seus amigos digam algo como “10 quilômetros?! Então é longe pra caraca! Vamos de busão”. É claro que, se a distância na verdade for 1 km, essa informação não vai ser muito útil e você ainda vai ser chamado de frouxo. Nesse caso, melhor não usar o argumento da distância, que seria derrubado muito facilmente.
Daí, aliás, a importância de elaborar um projeto de texto antes de começar uma redação.

Resumindo os elementos da dissertação:

Tese (opinião sobre o tema): devemos tomar um ônibus até a praia
Argumentos (justificativas para a tese): a praia fica muito longe daqui
Informações (fatos verificáveis que sustentam a tese ou os argumentos): a praia fica a 10 km daqui

No exemplo acima, eu usei um pequeno golpe para deixar a situação mais compreensível: coloquei a argumentação entre amigos próximos. Na verdade, quando se escreve uma dissertação para uma prova ou concurso, não é assim que funciona. O texto dissertativo tem o que chamamos de autor impessoal. Isso quer dizer que, quando você escreve uma dissertação, não deve se revelar no texto; não é recomendável usar a primeira pessoa do singular (“eu”) e não é válido usar características e experiências pessoais nos argumentos (você não deve dizer algo como “em minha vida, sempre observei que isso acontece” nem “eu trabalho nessa área, por isso eu sei que isso é verdade”). 

O interlocutor do texto dissertativo também não é, normalmente, um amigo seu (mas, se você praticar e planejar bem seu texto, ele vai acabar virando seu admirador). O interlocutor é classificado como genérico ou universal. Em teoria, o texto dissertativo deveria ser compreensível e convincente para qualquer leitor. Sabemos que isso é impossível, mas você, como autor do texto, ainda deve ter em mente que seu alvo é um leitor médio, não um professor de Redação: um erro muito comum é imaginar que o alvo de uma dissertação é o professor ou o corretor que vai avaliar o texto. Quando pensa nesse interlocutor, o aluno muitas vezes escreve um texto que exige, para sua compreensão, um conhecimento específico que o professor pode até possuir, mas o público em geral não. Assim, mesmo que a redação seja compreendida pelo avaliador, talvez ela não esteja adequada, pois não atinge o leitor médio.

Concluímos até aqui que a dissertação é um texto em que um autor impessoal tenta provar uma tese para um leitor genérico, por meio de argumentos e informações. No próximo post, vou falar dos passos necessários para elaborar o projeto.

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