sábado, 26 de maio de 2012

Camões e as Indiretas


Uma das reclamações que ouço com frequência de meus alunos (especialmente quando eles têm que ler Ficções, de Jorge Luis Borges) é que os livros ‘antigos’ não tem nada a ver com nada e são impossíveis de compreender. Não nego a dificuldade, mas acho que vale a pena entender de onde vem essa aparente desconexão com o mundo real. E a paradoxal resposta é que, muitas vezes, um texto parece difícil de entender justamente porque ele está excessivamente conectado ao mundo real!

Quando os autores ‘antigos’ escreviam seus livros, sua última preocupação era dificultar a vida dos estudantes do século XXI. Na verdade, muitos livros que lemos hoje com dificuldade eram de compreensão cristalina para os contemporâneos do autor. Os temas discutidos eram tão próximos à realidade do leitor (vale lembrar que os livros eram normalmente escritos para uma classe social específica, que possuía os conhecimentos necessários) que os autors aludiam a esses acontecimentos de forma indireta, sabendo que isso economizaria espaço ou levaria o leitor à reflexão (e às vezes até ao riso).

Veja, por exemplo, duas estrofes do poema épico “Os Lusíadas”, de Camões:

Mais avante, bebendo, seca o rio
Mui grande multidão da Assíria gente,
Sujeita a feminino senhorio
De uma tão bela como incontinente.
Ali tem, junto ao lado nunca frio,
Esculpido o feroz ginete ardente
Com quem teria o filho competência.
Amor nefando, bruta incontinência!

Daqui mais apartadas, tremulavam
As bandeiras de Grécia gloriosas
(Terceira Monarquia), e sojugavam
Até as águas Gangéticas undosas.
Dum capitão mancebo se guiavam,
De palmas rodeado valerosas,
Que já não de Filipo, mas, sem falta,
De progênie de Júpiter se exalta.

Ambas fazem parte do canto 7 da obra, e se referem ao momento em que a tripulação de Vasco da Gama observa as figuras representadas em um palácio indiano. Para um leitor médio de hoje, é bastante difícil entender o que elas dizem. Mas é injusto atribuir tal dificuldade a uma possível incapacidade do autor. A verdade é que as referências feitas são pouco comuns para o estudante do século XXI, mas eram claras para o leitor que Camões tinha em mente (a nobreza da Lisboa de 1572). Lembre-se de que não havia Facebook nem Playstation nessa época, por isso os jovens da nobreza liam mais sobre mitologia e história.
Supondo que você esteja curioso, aí vão algumas referências mais importantes:
  
Mais avante, bebendo, seca o rio
Mui grande multidão da Assíria gente,
Sujeita a feminino senhorio
De uma tão bela como incontinente.

Trata-se do povo assírio sob o reinado da rainha Semíramis, que teria sido a rainha da Babilôia e responsável pela construção dos Jardins Suspensos. Segundo as lendas, ela era muito bonita e também mais devassa que a Sandy. Diziam, por exemplo, que ela mantinha relações sexuais com seu cavalo e com o próprio filho, que “competiam” por seu amor:

Ali tem, junto ao lado nunca frio,
Esculpido o feroz ginete ardente
Com quem teria o filho competência.

Alguém vai dizer: “poxa, não era mais fácil falar tudo isso de uma vez?”. Talvez fosse, talvez não. Afinal, quantas palavras rimam com “Semíramis”?!?!

Não vou dar as referências da segunda estrofe, mas adianto que tem a ver com Alexandre, o Grande. O resto vocês procuram no Google.

Mas por que estou falando isso? Ora, porque vi recentemente um exemplo perfeito de como essa estratégia literária está viva e presente nos tempos atuais. Refiro-me, naturalmente, à genial paródia da música “Roda Viva”, de Chico Buarque, apresentada na quinta-feira no programa “Comédia MTV”. Nessa paródia, intitulada “Indiretas Já”, o comediante Marcelo Adnet fez um texto cheio de referências à TV brasileira, de uma maneira que Camões acharia impossível entender, mas que deve fazer algum sentido para os jovens de 2012. Confira o vídeo abaixo:




Pegou todas as referências? Aqui vão as que eu pude perceber (e umas que eu não peguei de primeira, mas acabei descobrindo com uma ajudinha do Google):


Plim plim coloriu 89
Editou pra não ver Lulalá

Plim-plim é claramente a Globo. “Coloriu” é uma referência a Fernando Collor de Mello, que foi eleito presidente em 1989 com uma ajudinha suspeita da Globo. A emissora mostrou, no Jornal Nacional, uma versão editada do último debate entre Collor e Lula. Na época, o slogan deste último dizia justamente “Lula lá/Brilha uma estrela...” Confira a edição do JN no youtube:




Olimpíada não se promove
É bueno a boca calar

O comentário sobre as Olimpíadas faz referência ao fato de a Globo não ter vencido a concorrência para transmitir os jogos de Londres 2012 e, por conta disso, não mencionar o assunto em seus telejornais e programas esportivos. Bueno é, claramente, uma referência a Galvão Bueno, principal locutor esportivo da emissora carioca, mas ao mesmo tempo é um termo espanhol para “bom” (“é bom calar a boca”, já que os direitos de transmissão estão com outras emissoras). Some-se a isso o fato de que Galvão foi vítima, durante a Copa de 2010, da campanha Cala Boca Galvão, e temos mais uma referência no mesmo verso.

Liberta a raposa do cabo

A “Raposa do cabo” é o canal Fox Sports (Fox = “raposa”, em inglês), que estreou no Brasil em 2012 com exclusividade sobre as transmissões da Copa Libertadores da América na TV paga. Para evitar isso, a Globo tentou tanto quanto possível impedir que o canal entrasse na grade básica das operadoras Net e Sky. Leia mais detalhes em http://f5.folha.uol.com.br/televisao/1032426-globosat-e-fox-sports-travam-guerra-de-bastidores-na-tv-paga.shtml

Chato que não deu pra acabar

Já o “chato que não deu pra acabar” (notem que os cantores pronunciam “Chatô”) é referência ao filme “Chatô, o Rei do Brasil”, dirigido pelo ex-ator global Guilherme Fontes, que consumiu mais de 10 milhões de reais em dinheiro público e nunca ficou pronto. Em 2010, Fontes foi condenado a mais de três anos de prisão por sonegação fiscal, mas a pena foi convertida em prestação de serviços comunitários e 12 mil reais em cestas básicas. http://www.politicalivre.com.br/2010/04/por-causa-de-filme-sobre-chato-guilherme-fontes-e-condenado-a-mais-de-3-anos-de-prisao/

Tem cenoura no angu do Gomes
Veste a carapuça pra lá

Essa me deu trabalho, mas parece que é bem conhecida de quem acompanhava as fofocas sobre celebridades dos anos 80. De acordo com o site Fazendo Media (http://www.fazendomedia.com/globo40/romero13.htm), o que ocorreu foi que o ator Mário Gomes teria caído em desgraça com os diretores Daniel Filho e Carlos Imperial. Estes teriam, então, espalhado o boato de que Mário Gomes estaria sendo atendido em um hospital por causa de uma cenoura entalada em seu orifício anal. “Veste a carapuça pra lá” pode ser uma referência ao mesmo caso, já que, na época, não se revelou o nome do ator.

Todo mundo já foi pra band
Tem argentino, tem arregão

Todo mundo (que me faz lembrar do filme “Todo Mundo em Pânico”) se refere aos programas “Pânico”, que saiu da Rede TV e foi para a Bandeirantes, e ao CQC, que é a versão brasileira de um programa argentino e também está nessa emissora. Mas a palavra “argentino” se refere também ao Bolinha, um dos participantes do Pânico, chamado por esse nome, enquanto arregão deve ser o Repórter Vesgo, conhecido por ter se negado a enfrentar Bolinha em uma luta. O caso foi bastante explorado pelo Pânico e deu origem ao quadro “O maior arregão do mundo”:



Quem mexeu com os garis ontem
Vai virar piada amanhã

“Quem mexeu com os garis” foi o âncora Bóris Casoy, ao fazer um comentário no Jornal da Band após dois garis aparecerem em uma vinheta desejando “Feliz 2010”: “que m####... dois lixeiros desejando felicidades do alto de suas vassouras. O apresentador agora é alvo de imitações no Pânico na Band. 



Nem tudo é possível sem flores
Marido falou muito mais

Ana Hickmann, que apresenta o programa “Tudo é Possível”, na TV Record, envolveu-se em uma confusão com Chris Flores, apresentadora do matinal “Hoje em Dia”, na mesma emissora. O pivô  teria sido o marido de Ana Hickmann, Alexandre Corrêa, que criticou Chris, chamando-a de falsa e mal agradecida:

(http://diversao.terra.com.br/tv/noticias/0,,OI5551907-EI12993,00-Chris+Flores+sobre+briga+com+Ana+Hickmann+tomei+um+susto.html). 

Chris deu uma entrevista ao programa “Muito Mais”, apresentado por Adriane Galisteu. Adriane, então, criticou a postura de Ana Hickmann e também foi criticada por Alexandre.  

(http://diversao.terra.com.br/tv/noticias/0,,OI5758263-EI12993,00-Marido+de+Hickmann+sobre+Galisteu+nunca+perdoaremos+essa+senhora.html)

Papa raso quem não teve fama

“Para raso” é uma alusão a “papparazzo”, que é tanto o repórter especializado em conseguir fotos de celebridades (ou sub-celebridades) quanto o site que publica fotos dessas mesmas (sub)celebridades em ensaios sensuais. Um outro local em que essas pessoas aparecem é o programa "TV Fama", da Rede TV. A indireta seria: “Quem não TV Fama, Paparazzo”, indicando que esses dois meios são os únicos em que alguns pseudo artistas podem aparecer.

Erra sete pra desinformar

Crítica a um suposta postura tendenciosa do portal de notícias R7 (“Erra Sete”), da Rede Record.

Tem gente que não é criativa
Copia e faz mix por lá

Crítica aos canais que copiam o estilo da MTV, especialmente o canal MIX-TV: http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,mix-tv-investe-no-dna-da-mtv,730798,0.htm.

Mas quando a casseta vai fundo
Nem adianta miar

O programa “Casseta e Planeta” mudou de nome, para “Casseta e Planeta Vai Fundo”. Entre as novidades para levantar a atração, que perdeu muito terreno para programas como o “Pânico” e o “CQC”, estão um estilo mais próximo a esses dois humorísticos e a entrada de novos integrantes, como Miá Mello, vinda do “Legendários” (“nem adianta Miá”).

Agora é tarde, saturday é sunday

“Agora é Tarde” é o programa apresentado por Danilo Gentili na Bandeirantes, e “saturday é sunday” é uma referência ao fato de que o programa “Saturday Night Live”, comandado pelo ex-CQC Rafinha Bastos, será apresentado no Brasil aos domingos.

Quanto é que custa o maracanã?

É uma referência um pouco fora do padrão, pois não está ligada diretamente à TV (embora “Quanto é que custa” possa ser uma referência ao “Custe o Que Custar”). A reforma do Maracanã saiu do controle e já está atingindo o valor de um bilhão de reais.

A tarde é suja de sangue

Comentário sobre o programa “A Tarde é Sua”, apresentado por Sônia Abrão na Rede TV, e outros programas vespertinos que mostram violência, como o “Brasil Urgente”, de José Luís Datena.

O Rei fazendo operação

“Rei” é provavelmente o Dr. Ray, que faz cirurgias plásticas no programa “Dr. Hollywood”, da Rede TV.

Pastor só sai de madrugada
Rebanho não pode enxergar

Referência aos programas religiosos que passam na Record na madrugada, em horários comprados por um valor absurdamente alto pela Igreja Universal. Esse sistema, que dá força financeira à Record para competir com outras emissoras, é fartamente conhecido de quem acompanha noticiário (talvez não o da Record). “Rebanho não pode enxergar” é possivelmente um comentário sobre o fato de os fiéis da IURD não verem para onde está indo o dinheiro de seu dízimo.

Dizem-me que quem não paga
Mais cedo ou mais tarde cai cai

Por falar em dízimo, aqui há mais uma referência (“dizem-me” é pronunciado “dízimo” por Adnet no vídeo). “Mais cedo” é claramente Edir Macedo, dono da Igreja Universal e da Rede Record, que, segundo boatos, está prestes a cair devido à queda na arrecadação de seus templos e a uma série de processos na justiça. Não é absurdo supor também que o “cai cai” se refira ao programa “Quem Fica em Pé?”, que Datena apresenta na Band, já que o apresentador passou muito brevemente pela emissora do bispo Macedo.

ET massageou minhas costas
Desculpe errei de tv

Daniela Albuquerque, apresentadora da Rede TV (“errei de TV”) afirmou ter recebido uma massagem nas costas de um "extraterrestre de pernas finas".



Está a maior zorra na praça
Só para agradar classe C

Referência aos programa “A Praça é Nossa”, do SBT, e “Zorra Total”, da Globo, ambos de estilo mais popular (segundo algumas críticas, de humor chulo e apelativo; confesso que não tenho acompanhado para saber).

Anãozinho, bunda gigante,
Tem dançarina, competição
Vai já pro sofá figurante
Reality vale um milhão

A mim, parece não ser uma referência a um caso específico, mas sim a atrações que aparecem em vários programas, como “BBB”, “A Fazenda”, “Legendários” e Pânico”. Há quem afirme que há aí uma crítica específica a Marcos Mion (que seria a bunda gigante) e Mionzinho, sósia do apresentador (que seria o anão).
A “dançarina com petição” pode ser Fabiana da Silva, dançarina que processou a Band por danos morais. Ela afirma que a emissora prometeu a ela um contrato com a banda Bicho da Cara Preta, mas a fez assinar (ao vivo) um contrato com outra banda:

http://blog.direitodopovo.com.br/?p=3097
O “teste do sofá” seria a situação em que as modelos desconhecidas precisam ir para o sofá (ter relações sexuais) com os diretores de programas para aparecer na TV. O programa “Agora é Tarde” também tem um quadro chamado “Teste do Sofá”.

Um belo monte de artistas
Pra gota d’água não cair

A Globo editou um vídeo, intitulado “Gota D’Água”, em que vários artistas criticavam a construção da usina de Belo Monte. A atitude foi bastante criticada, porque supostamente haveria informações erradas sendo divulgadas no vídeo, por pessoas que não entendem do assunto. Assista ao vídeo e a uma resposta a ele e tire suas próprias conclusões:


Gota D’Água:  




Resposta (Tempestade em Copo D´Água):

 


Mas no delta da cachoeira
Tucano não pode sorrir

“Delta” é o nome da construtora ligada ao bicheiro Carlinhos Cachoeira, que ganhou contratos bilionários com o governo federal, supostamente devido ao pagamento de propinas. A revelação do esquema seria um motivo de felicidade para o PSDB (tucanos), que integra a oposição, e usaria os fatos para enfraquecer o governo Dilma. Ocorre, porém, que Cachoeira também tem ligações com o governador tucano Marconi Perillo, de Goiás, e do senador Demóstenes Torres, também da oposição. Assim, tanto o governo quanto a oposição têm motivos para temer maiores revelações sobre o caso.


Calou-se o prefeito na sombra
O André deu perda total

Referência ao assassinato de Celso Daniel (PT, “perda total”), prefeito de Santo André. Acredita-se que ele foi assassinado pelo empresário Sérgio Gomes da Silva (conhecido como “Sombra”) após ter sido contrário ao desvio de dinheiro da prefeitura para pagar contas da campanha de Lula à presidência, em 2002. “Deu perda total” seria, desse modo, uma acusação, segundo a qual o PT está envolvido na morte do prefeito de Santo André.  

Ai que bom ter o mapa da mina

“Ai que” é a forma como se pronuncia o primeiro nome de Eike Batista, o homem mais rico do Brasil. Corre a lenda de que seu pai, Eliezer Batista, antigo presidente da Cia Vale do Rio Doce e ex-ministro de Minas e Energia, teria deixado ao filho um mapa das regiões do Brasil que possuíam riquezas minerais e que, dessa forma, Eike teria acesso a informações privilegiadas que permitiram a ele comprar, por um preço baixo, terras que iriam se valorizar muito no futuro.

Paris quem descobriu foi.... Cabral.

Mais uma referência ao escândalo Cachoeira: o governador do Rio, Sérgio Cabral, teve viagem para Paris paga pelo dono da Delta, Fernando Cavendish, envolvido com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Um tem sobrancelha gigante, uma é caipira outra é anã
Um careca e outro fumante

São os próprios humoristas que participam do vídeo: “sobrancelha gigante” é o Marcelo Adnet; “Caipira” é a Dani Calabresa; “Anã” é a Tatá Werneck; “Careca” é o Paulinho Serra e “Fumante” é o Bento Ribeiro.

MTV acaba amanhã

Mais de uma possibilidade: ou a MTV acaba devido à falta de patrocínio e audiência, ou devido às “indiretas” lançadas contra todos os outros canais, que poderiam render alguma represália.


Conclusão:
Não basta entender as palavras para ler bem um texto: tem que entender o mundo, e especialmente o mundo a que o texto se refere. Pesquise mais e você vai perceber quantos textos aparentemente incompreensíveis se revelam até bastante interessantes.

Tema para praticar: Crônica Reflexiva

(Para meus alunos do 1º colegial: este é o tema que deve ser feito por quem não pôde ir à oficina da quarta-feira, dia 23)


1.    Leia a notícia abaixo, publicada no site Yahoo!; em seguida, imagine que você seja um médico que mantém uma coluna semanal em um jornal de grande circulação; imagine tambémque, após ler a notícia, você tenha se lembrado de um caso semelhante ocorrido no início de sua carreira. Escreva uma crônica reflexiva sobre o tema. Nesse texto você deverá, necessariamente:

- mencionar ao menos uma semelhança entre o caso que você presenciou e o ocorrido na Inglaterra; e
- apresentar uma opinião sobre o direito à eutanásia.


Justiça britânica analisa caso de homem com paralisia que quer morrer
Londres, 12 mar (EFE).- O Tribunal Superior de Londres aceitou nesta segunda-feira o trâmite do caso de um britânico com paralisia total e plenas faculdades mentais que pede proteção legal para que os médicos possam ajudá-lo a morrer sem o risco de serem acusados de assassinato.
Tony Nicklinson, de 58 anos, tem paralisia completa do pescoço para baixo ("Locked-in Syndrome", em inglês) desde 2005, quando sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), que não afetou seu cérebro, mas o impede de se suicidar.
O paciente britânico levou seu caso ao Tribunal Superior, que nesta segunda aceitou que suas reivindicações sejam ouvidas.
O caso possui grande relevância, já que o Ministério da Justiça argumenta que o pedido de Nicklinson - proteção legal contra acusações de assassinato para um médico que o ajude a morrer - modificaria a legislação atual sobre o assassinato, algo que só o Parlamento pode fazer.
A decisão do juiz de admitir o caso indica que serão levados em conta nas próximas audiências judiciais os depoimentos de médicos sobre o caso desse paciente, pai de duas filhas.
Após ser informada que o tribunal deu sinal verde para o prosseguimento do caso de Nicklinson, sua esposa, Jane, leu um comunicado à emissora "BBC" no qual expressou sua satisfação pelo fato "de que assuntos relacionados à morte assistida possam ser debatidos em um tribunal".
A mulher declarou que seu marido "quer apenas saber que existe uma saída quando o momento chegar" e considerou que "já não é aceitável que a medicina atual seja governada por atitudes do século 20 sobre a morte".

terça-feira, 15 de maio de 2012

Tema para praticar: notícia


Leia com atenção o texto abaixo, um poema de autoria de Jorge de Lima. Em seguida, escreva uma notícia em que se relate o fato que inspirou o poema.

O grande desastre aéreo de ontem  

Para Cândido Portinari

Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva, abraçado com a hélice. E o violinista em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com sua cabeleira negra e seu estradivárius. Há mãos e pernas de dançarinas arremessadas na explosão. Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor. Vejo sangue no ar, vejo chuva de sangue caindo nas nuvens batizadas pelo sangue dos poetas mártires. Vejo a nadadora belíssima, no seu último salto de banhista, mais rápida porque vem sem vida. Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como se dançassem ainda. E vejo a louca abraçada ao ramalhete de rosas que ela pensou ser o paraquedas, e a prima-dona com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como um cometa. E o sino que ia para uma capela do oeste, vir dobrando finados pelos pobres mortos. Presumo que a moça adormecida na cabine ainda vem dormindo, tão tranquila e cega! Ó amigos, o paralítico vem com extrema rapidez, vem como uma estrela cadente, vem com as pernas do vento. Chove sangue sobre as nuvens de Deus. E há poetas míopes que pensam que é o arrebol.

LIMA, Jorge de. Poesia completa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980, 2 v, v. 1, p. 237

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Tema para praticar: Narração


Leia com atenção o seguinte mini-conto:

“Um dia nosso pai subiu o rio.
Disse que ia voltar rico e que vinha nos buscar. Mas passou rio, passou rio pela nossa porta e nada
do nosso pai voltar.
Um dia o rio trouxe o chapéu de palha do nosso pai. Passou lá no meião, mas nossa mãe identificou.
Bom sinal. Ele já tinha trocado de chapéu. Qualquer dia aparecia rico, descendo o rio de linho branco, num
barco a motor. Mas passou rio, passou rio e nada do nosso pai voltar.
Então um dia a nossa mãe viu uma balsa descendo o rio. Em cima da balsa, amarrado numa cadeira,
degolado, o nosso pai, com uma tabuleta mo peito ensangüentado dizendo alguma coisa. Mas nossa mãe
fez que não viu.
Nunca mais se falou no nosso pai. mas eu às vezes penso no que estava escrito naquela tabuleta.
Um dia subo o rio pra descobrir.”
(Luís Fernando Veríssimo, Comédias da Vida Privada)

Instruções Gerais:

Escreva uma narração em 3ª pessoa em que o personagem suba o rio e descubra o que aconteceu
com seu pai.