A internet tornou muito mais simples o processo de aprender a fazer coisas rápidas, mas que poucas pessoas sabem (como fazer nó em gravata ou montar um cubo mágico). Já procurei no Youtube mais de uma vez um vídeo explicando como dar nó em gravata e fui bem sucedido (na verdade, eu faço isso todo ano, no dia da formatura dos meus alunos). Antes da internet, eu teria que procurar alguém que tivesse esse conhecimento. Talvez eu tivesse que telefonar e a pessoa explicaria o que eu deveria fazer para dar o tal nó. Ia ser bem mais complicado. Não sei se as pessoas que tiveram seu nascimento postado no Orkut têm muita noção da diferença que a internet fez para o acesso à informação.
Agora, vamos imaginar o que se passa na cabeça de alguém que, encantado com a facilidade que é aprender a dar nó em gravata pela internet, resolve aplicar o mesmo processo em outras áreas de sua vida. Vamos supor que essa pessoa vai prestar alguma prova, como um vestibular ou o ENEM, e vai ter que fazer uma redação. É natural que ela tenha o impulso de entrar no Google e digitar sua dúvida, acreditando sinceramente que encontrará lá um vídeo de no máximo 10 minutos ou um texto de uma página que dirá tudo o que ela precisa saber. Infelizmente para esse nosso estudante hipotético, não é bem assim que funciona.
De todas as matérias que formam o currículo brasileiro na atualidade, acredito que a redação seja a mais voltada à prática. Aprender a escrever é algo que simplesmente exige que o estudante escreva e reescreva. Posso garantir que é impossível aprender a fazer boas redações sem praticar. E não estou falando aqui de textos literários, mas de redações do tipo exigido em provas e concursos. Portanto, esperar um caminho fácil para aprender a fazer redação, memorizando ‘dicas’ do que fazer e do que evitar, é uma estratégia fadada ao fracasso.
Se não é possível aprender a escrever lendo dicas, como fazer, então? Ótima pergunta, eu ia mesmo entrar nesse assunto. O fato é que as dicas realmente úteis para redação podem ser resumidas em duas: Planeje antes de escrever e também Pratique sua escrita.
A prática pode ser um pouco complicada, mas o que eu sugiro é basicamente é o seguinte: você, estudante interessado em evoluir sua escrita, deve pegar temas de concursos e vestibulares e escrever os textos. Em seguida, procure um profissional da área para corrigir seus textos (pedir à sua mãe para dizer o que achou pode até ser uma alternativa, mas é difícil ela ser muito imparcial...). Se você tem acesso a alguém que possa fazer esse trabalho em sua escola ou cursinho, melhor. Caso contrário, ainda assim vale a pena se esforçar para conseguir um profissional que corrija seus textos. É a única forma de melhorar a escrita. Se estiver se preparando para uma situação determinada (como fazer o vestibular da Unicamp ou o ENEM, por exemplo), procure alguém que conheça os critérios do concurso ou vestibular específico que você pretende prestar. Esse conhecimento específico, que eu vou discutir mais detalhadamente no quarto post desta série, é um diferencial importante.
Sobre o planejamento, podemos comparar a escrita de um texto à construção de uma casa. Talvez, quando perguntado sobre qual é o primeiro passo necessário para construir uma casa, você se sinta tentado a responder “os alicerces” ou “a fundação”. Na verdade, o primeiro passo é a planta. Se alguém tentar construir uma casa sem uma planta, vai gastar muito tempo e muito material, enquanto erra e depois corrige erros completamente evitáveis. O mesmo vale para o processo de escrever um texto. Às vezes, a pressão do tempo nos faz achar que vale a pena começar a escrever a redação o mais rapidamente possível, mesmo sem ter entendido perfeitamente o tema. Ocorre que, quando alguém escreve um texto dessa forma, é muito provável que coloque no papel ideias que não receberam muita reflexão, ou que caia em contradição ou ainda que gaste os primeiros parágrafos do texto ‘enrolando’ e, quando tiver finalmente uma ideia para escrever, a folha já esteja no fim. Talvez você já tenha passado por essa situação: você recebe um tema e começa imediatamente a escrever o rascunho. Quando termina e vai lê-lo, antes de passar a limpo, acaba percebendo que o texto que você produziu é muito ruim e escreve um totalmente diferente na folha final. Podemos dizer que, nesse caso, você escreveu um “não-rascunho”, ou seja, um guia do que não estará na versão final de sua redação.
A solução? Escreva, antes da versão final, antes até mesmo do rascunho, um projeto de texto, que deve conter todas as ideias que estarão presentes no texto final, inclusive a conclusão ou o desfecho, ou seja, o final do texto. Na maioria dos casos, aliás, é melhor começar a planejar o texto imaginando como será o final dele.
Esse projeto não precisa ser perfeito, mas deve ser elaborado de forma clara, para que você consiga entendê-lo muito bem e usá-lo como base para a escrita da redação. E o que deve estar presente no projeto? Isso já depende muito do gênero ou do tipo de texto que você está escrevendo. Falarei mais sobre isso em breve. Por enquanto, lembre-se de que é preciso planejar antes de escrever. Essa regra simples irá ajudar muito mais que todas as listas de dicas que você pode encontrar por aí.
Por enquanto é só. No próximo post, vou comentar com detalhes algumas das lendas de redação mais famosas e explicar exatamente por que elas não fazem sentido. Até lá.
Já escrevi mais "não-rascunhos" do que redações mesmo! hahahaha
ResponderExcluirolá cícero!
ResponderExcluiraline da carlos chagas..
estou te seguindo e acho que este blog vai ser útil pra muita gente. digo isso porque ano passado -antes de entrar no clima agonizante do elite- como não tinha nenhum apoio em relação à redação pro vestibular e professores bastante despreocupados com isso, criei um blog com o intuito de escrever e discutir redações. infelizmente, acabei focando no curso tecnico e não tive tempo de me dedicar ao blog (no elite aprendi que SIM, eu tinha tempo). não levei adiante mas a ideia ainda não morreu, e talvez volte quando eu passar no vestibular (com uma pegada mais motivacional).
meu outro blog é pessoal, tem coisas legais que escrevi, mas também está desatualizado.
o elite só f**e haha
enfim, estou acompanhando!
Oi, Aline. Obrigado pela companhia. Você chegou a escrever alguma redação no seu blog? Qual é o endereço?
ResponderExcluirAbraços.
Cícero da redação.
Olá, Cícero!
ResponderExcluirEstou gostando muito do blog, mas há uma questão relacionada a esse post que está me incomodando um pouco.
Veja, estamos falando de vestibulares. As matérias vem juntas, e nem sempre temos a resposta na ponta da língua. Assim, temos que administrar o tempo de forma que consigamos responder satisfatoriamente as questões e escrever as redações de forma clara e coesa. Inevitavelmente, acabaremos atrasando em alguma questão - não somos robôs para sabermos tudo. Ou seja, quanto mais questões demorarmos para fazer, menor será o tempo da redação. Ora, o tempo da redação já não é muito grande. Com a perda de tempo das questões, ele fica ainda menor! Assim, não temos tempo para fazer um planejamento propriamente dito, pois isso pode levar um certo tempo. As vezes as palavras não nos vêm à mente, não é? Assim, acho que a dica "Planeje antes de escrever" entra como um "subtópico" de "Pratique sua escrita". Deixe-me explicar meu raciocínio.
Ora, se praticarmos a escrita planejando o texto com tempo disponível automaticamente estaremos condicionando nossas mentes à organização, além de estarmos estimulando a imaginação e reforçando a argumentação. Assim, quando num vestibular ou numa prova,sua mente estará apta para realizar diversas tarefas ao mesmo tempo.
De qualquer maneira, excelente blog, Cícero! Meus parabéns.
Oi, Klaus. Obrigado pela participação. Fico feliz de saber que você está gostando do blog e espero que ele o ajude a melhorar ainda mais sua escrita (já deu para ver que você tem facilidade).
ResponderExcluirSobre o planejamento, vou escrever longamente sobre isso nos próximos tópicos, mas já adianto que planejar um texto não é um gasto e sim um investimento de tempo. Muitas vezs, quando vamos tentar fazer várias coisas simultaneamente, acabamos nos perdendo, gastando um tempo exagerado e não fazemos nenhuma das coisas corretamente. É claro que, quanto maior a prática, maior a probabilidade de o planejamento ser rápido, quase automático. Mas esse planejamento não deve ser opcional: ele é a única forma de garantir que as técnicas necessárias para escrever um bom texto serão aplicadas. Sem planejar, é muito provável que o autor se esqueça de algum elemento importante no texto.
Enfim, vou explicar detalhadamente em breve. Não deixe de ler e comentar o próximo post.
Abraços.
Cícero.