quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Expectativa oficial da Unicamp para a prova de redação 2013

 A Unicamp publicou ontem a expectativa oficial sobre os dois gêneros da prova de redação. O texto, disponível no site da Unicamp (http://www.comvest.unicamp.br/vest2013/F1/redacao_expectativas.pdf), está reproduzido abaixo. Honestamente, não acho que ajuda muito a saber que nota o candidato vai tirar, mas quem estiver com um tempinho sobrando pode achar interessante.


REDAÇÃO: EXPECTATIVAS DA BANCA

TEXTO 1
Espera-se que o candidato, colocando-se na posição de um estudante de ensino médio, escreva um resumo que apresente à comunidade escolar a matéria “Pessimismo”, em um painel cuja temática são características psicológicas e suas implicações. Nesse resumo deverão estar necessariamente presentes o ponto de vista da matéria – a importância de uma postura pessimista diante do mundo ou a necessidade de equilibrar as visões pessimista e otimista – e argumentos que sustentam, na matéria, tal ponto de vista. Isso implica que os argumentos mobilizados deverão ser apenas aqueles que se encontram na matéria. Salienta-se que um resumo não é uma lista de itens, mas um texto articulado, isto é, cuja estrutura interna propicia progressão temática. Além disso, a atividade de resumo pressupõe uma habilidade de leitura bastante desenvolvida, devendo o leitor ser capaz de apreender a estrutura informacional e argumentativa do texto a ser resumido. Uma leitura que não perceba a estrutura temática em sua progressão pode levar a um resumo que se limite a recortar as informações na sequência em que ocorrem no texto. No caso específico da atividade proposta, temos, de um lado, a relevância do pessimismo como uma baliza do mundo real para a boa consecução das ações coletivas do homem em sociedade. E, de outro lado, os perigos que o excesso de otimismo pode trazer para as sociedades, especialmente no plano político. No plano individual, o otimismo puro e simples pode ser fonte de angústias, uma vez que a realidade da vida raramente corresponde às situações idealizadas que o otimista constrói.

TEXTO 2
Espera-se que o candidato, assumindo a posição de um leitor assíduo dos órgãos midiáticos, escreva uma carta ao jornal responsável pela publicação da matéria “Cães vão tomar uma ‘gelada’ com cerveja pet”, para criticar o fato de não haver referência às implicações que o produto noticiado pode ter sobre o consumo de álcool por adolescentes. A crítica deve estar fundamentada em dados fornecidos pela matéria “Vergonha nacional”, que mostram que o consumo de álcool por adolescentes ocorre frequentemente no próprio ambiente familiar. O gênero em questão, carta para jornal, implica que o texto deve se sustentar pela interlocução construída, fazer referência explícita à matéria que é objeto da crítica e, além disso, ter uma construção argumentativa que permita ao leitor compreender o objetivo da carta. Espera-se que o candidato seja capaz de construir a argumentação necessária para que o texto seja eficaz no seu propósito, seguindo a direção argumentativa fornecida. Dos passos argumentativos necessários, há um que depende da inferência do candidato: a articulação entre as informações presentes na pesquisa reproduzida e a notícia sobre a cerveja para cachorros. Animais domésticos são objeto de afeto no âmbito familiar, e o consumo de álcool por adolescentes se dá com muita frequência nesse mesmo ambiente social. O produto noticiado – uma cerveja para cães –, ainda que sem álcool, pode funcionar como um estímulo subliminar para os adolescentes consumirem bebidas alcoólicas.

A Redação na Unicamp 2013 - Gênero 2: Carta do Leitor



Abaixo, o tema e o comentário sobre o segundo gênero da Unicamp 2013 (Carta do Leitor). Esse comentário foi adaptado do que está no site do Elite, e foi escrito por mim. Quem quiser conferir o gabarito da prova inteira, entre em http://elitecampinas.com.br/gabaritos/unicamp/2013/unicamp2013_1fase.asp.

Tema:

Imagine que, ao ler a matéria “Cães vão tomar uma ‘gelada’ com cerveja pet”, você se sente incomodado por não haver nela nenhuma alusão aos possíveis efeitos que esse tipo de produto pode ter sobre o consumo de álcool, especialmente por adolescentes. Como leitor assíduo, você vem acompanhando o debate sobre o álcool na adolescência e decide escrever uma carta para a seção Leitor do jornal, criticando a matéria por não mencionar o problema do aumento do consumo de álcool.
Nessa carta, dirigida aos redatores do jornal, você deverá:

·          fazer menção à matéria publicada, de modo que mesmo quem não a tenha lido entenda a importância da crítica que você faz;
·          fundamentar a sua crítica com dados apresentados na matéria “Vergonha Nacional”, reproduzidos adiante.

Atenção: ao assinar a carta, use apenas as iniciais do remetente.

Cães vão tomar uma “gelada” com cerveja pet
Produto feito especialmente para cachorros chega ao mercado nacional em agosto

Nada é melhor que uma cervejinha depois de um dia de cão. Agora eles, os cães, também vão poder fazer jus a essa máxima. No mês de agosto chega ao mercado a Dog Beer, cerveja criada especialmente para os amigos de quatro patas. “Quem tem bicho de estimação gosta de dividir o prazer até na hora de comer e beber”, aposta o empresário M. M., 47, dono da marca.
Para comemorar a final da Libertadores, a executiva A. P. C., 40, corintiana roxa, quis inserir Manolito, seu labrador, na festa.
“Ele tomou tudo. A cerveja é docinha, com fundinho de carne”, descreve.
Uniformizado, Manolito não só bebeu a gelada durante o jogo contra o Boca Juniors como latiu sem parar até o fim da partida.
Desenvolvida pelo centro de tecnologia e formação de cervejeiros do Senai, no Rio de Janeiro, a bebida canina é feita à base de malte e extrato de carne; não tem álcool, lúpulo, nem gás carbônico.
O dono da empresa promete uma linha completa de “petiscos líquidos”, que inclui suco, vinho e champanhe.
A lista de produtos humanos em versões animais não para de crescer.
Já existem molhos, tempero para ração e até patê.
O sorvete Ice Pet é uma boa opção para o verão. A sobremesa tem menos lactose, não tem gorduras nem açúcar.

(Adaptado de Ricardo Bunduky, Folha de São Paulo, São Paulo, 22 julh.2012, Cotidiano 3 p.)

Vergonha Nacional
As décadas de descumprimento da lei (...) contribuíram para que os adultos se habituassem a ver o consumo de bebidas entre adolescentes como “mal menor”, comparado aos perigos do mundo. (...) Um estudo publicado pela revista Drugs and Alcohol Dependence ouviu 15.000 jovens nas 27 capitais brasileiras. O cenário que emerge do estudo é alarmante. Ao longo de um ano, um em cada três jovens brasileiros de 14 a 17 anos se embebedou ao menos uma vez. Em 54% dos casos mais recentes, isso ocorreu na sua casa ou na de amigos ou parentes. Os números confirmam também a leniência com que os adultos encaram a transgressão. Em 17% dos episódios, os menores estavam acompanhados dos próprios pais ou de tios.

Resultados da pesquisa realizada com 15.000 jovens de 14 a 17 anos nas 27 capitais brasileiras
Quantas vezes se embebedou

Onde ficou embriagado
(na última vez em que bebeu)

Com quem bebeu
(na última vez em que bebeu)
Nenhuma vez
12%
Bar
35%
Amigos
50%
Uma vez na vida
35%
Casa de amigos
30%
Irmãos e primos
26%
Ao menos uma vez no último ano
32%
Casa de parentes
13%
Pais ou tios
17%
Própria casa
11%
Namorado
5%
Ao menos uma vez no último mês
21%
Festas ou praia
11%
Sozinho
2%


(Adaptado de Revista Veja, Editora Abril, São Paulo, no 28, 11 julh. 2012, p. 81-82.)


Comentário:


O segundo gênero cobrado pela Unicamp foi a Carta do Leitor: trata-se de um gênero encontrado com frequência em jornais e revistas e que se caracteriza por ser uma resposta ou comentário a alguma matéria publicada pelo meio de comunicação em questão.

No caso específico do tema pedido pela Unicamp, era necessário se colocar na posição de um leitor assíduo (não necessariamente leitor assíduo do jornal em que a carta seria publicada, embora essa característica pudesse ser bem aproveitada na argumentação) que se sentiu incomodado com a matéria “Cães vão tomar uma ‘gelada’ com cerveja pet” e resolveu, por esse motivo, escrever uma Carta do Leitor ao jornal, expressando sua reação à reportagem e apresentando uma crítica fundamentada em argumentos publicados em outra matéria.
O propósito do texto, portanto, incluía três tarefas: criticar a matéria publicada pelo jornal; fazer menção a essa matéria, de forma que os leitores que não a conhecem consigam entender a crítica; e usar dados de outra matéria para sustentar a crítica.
A interlocução do texto deveria considerar que o autor da carta é um leitor assíduo e os interlocutores diretos são os redatores da Folha de SP (embora a carta tenha sido elaborada visando à publicação e, portanto, tenha como interlocutores potenciais todos os leitores do jornal). Além de mencionar de maneira explícita a existência de ambos os interlocutores, seria interessante explorar suas características para enriquecer a argumentação. Os redatores da Folha, por exemplo, poderiam ser lembrados de sua responsabilidade de formadores de opinião. O autor da crítica, por sua vez, poderia se caracterizar como um adulto, pai de adolescentes, que se informa sobre o tema do consumo de álcool e sabe por experiência própria o quanto as matérias jornalísticas podem induzir comportamentos em jovens (note que as sugestões dadas aqui não são as únicas possibilidades, mas sugestões de como a máscara — características do autor — e a imagem — características do interlocutor — poderiam ser usadas. De acordo com os critérios da Unicamp, a exploração da máscara e da imagem deve ser um diferencial positivo, mas não um item estritamente necessário, sem o qual o texto seria anulado).
O julgamento do gênero se confunde um pouco com a interlocução, já que é característica da carta a presença de interlocução, máscara e imagem. Os aspectos formais, como cabeçalho, saudação e despedida, também ajudam a caracterizar a carta. A prova foi bastante clara ao afirmar que deve haver uma despedida, indicando que a carta deveria ser assinada com as iniciais do autor. Ao mesmo tempo, deixou subentendida a necessidade de uma saudação que mostrasse claramente a quem a carta era dirigida (os redatores do jornal Folha de SP). É bastante provável que a ausência de um ou dois desses elementos não seja motivo de anulação no critério gênero, desde que outros elementos estejam presentes. Mas a presença de vários deles, especialmente a interlocução, deve ser critério para valorizar o texto.

Algumas observações importantes: em primeiro lugar, vale apontar que o candidato não podia escolher sua posição em relação à matéria: a proposta deixava claro que era necessário criticar o jornal e apontava até o motivo para isso: a ausência de menção aos riscos do consumo de bebida alcoólica, especialmente por adolescentes. Por fim, embora pudesse haver outros argumentos, a banca certamente espera que sejam usados dados publicados na matéria “Vergonha Nacional”. Dessa forma, temos a continuação de uma tendência da Unicamp nos últimos dois anos: a presença de dados numéricos a serem analisados pelo candidato e aproveitados como argumentos.
A análise adequada desses dados numéricos merece uma atenção especial: com base nos números, poder-se-ia afirmar que os jovens têm um contato com a bebida alcoólica muito maior do que seria esperado se considerarmos que o consumo de álcool por jovens é teoricamente proibido: quase um terço dos jovens se embriagou no último ano.  O candidato poderia usar esse fato para sustentar a ideia de que é necessário cuidado ao tratar do consumo da bebida alcoólica, para mudar o fato de que, como afirma o texto de abertura da matéria, a sociedade vê o consumo de álcool como um ‘mal menor’. Outro dado importante seria o de que os pais costumam ser coniventes com a relação entre os jovens e a bebida alcoólica (17% dos casos de embriaguez se deram na presença de pais ou tios). O autor poderia usar esse dado até mesmo na construção de sua máscara, posicionando-se como um pai que, ao contrário dos citados na matéria, não aceita com naturalidade o consumo de bebida alcoólica pelos seus filhos.
Por fim, uma obrigação que provavelmente foi negligenciada por vários candidatos é a necessidade de fazer menção à matéria publicada originalmente pelo jornal, de forma a tornar a carta escrita como resposta compreensível para quem não a havia lido. Analogamente ao que ocorreu na prova de 2011, em que era necessário escrever um artigo opinativo que dialogasse com uma crônica de Drummond, a Unicamp pede ao candidato que estabeleça uma relação entre dois textos. Essa tarefa tende a ser trabalhosa para os candidatos com menor contato com textos escritos, levando muitas vezes à cópia exata do texto original. A banca certamente aceitará trechos específicos da matéria citados entre aspas (como “Nada é melhor que uma cervejinha depois de um dia de cão”), desde que haja um trabalho do autor sobre esses trechos, como comentários, críticas e interpretações (um exemplo, em relação ao trecho citado logo acima: “fiquei incomodado por a matéria fazer referências positivas à cerveja, como “nada é melhor que uma cervejinha depois de um dia de cão” e não incluir nenhuma ressalva apontando os perigos do consumo do álcool”).
O segundo tema da prova de redação do vestibular Unicamp 2013 foi um bom exemplo da atual proposta da universidade: cobrar dos seus futuros alunos as competências necessárias para produzir textos em situações reais. Embora haja uma série de obrigações, não deve ter havido dificuldade para o candidato bem preparado.
 



segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A Redação na Unicamp 2013: Gênero 1 - Resumo





No domingo, dia 11 de novembro de 2012, ocorreu a primeira fase do vestibular nacional Unicamp. Neste e no próximo post, irei apresentar as duas propostas de redação e comentá-las em detalhes. Para quem quiser também ler comentários sobre as questões, recomendo o site do curso Elite Campinas: http://www.elitecampinas.com.br/gabaritos/unicamp/2013/unicamp2013_1fase.asp

O primeiro tema da Unicamp 2013 está reproduzido abaixo:



Imagine-se como um estudante de ensino médio de uma escola que organizará um painel sobre características psicológicas e suas implicações no plano individual e na vida em sociedade. Nesse painel, destinado à comunidade escolar, cada texto reproduzido será antecedido por um resumo. Você ficou responsável por elaborar o resumo que apresentará a matéria transcrita abaixo, extraída de uma revista de divulgação científica. Nesse resumo você deverá:

- apresentar o ponto de vista expresso no texto, a respeito da importância do pessimismo em
oposição ao otimismo, relacionando esse ponto de vista aos argumentos centrais que o
sustentam.

Atenção: uma vez que a matéria será reproduzida integralmente, seu texto deve ser construído sem copiar enunciados da matéria.

PESSIMISMO

Para começar, precisamos de pessimistas por perto. Como diz o psicólogo americano Martin Seligman: “Os visionários, os planejadores, os desenvolvedores, todos eles precisam sonhar com coisas que ainda não existem, explorar fronteiras. Mas, se todas as pessoas forem otimistas, será um desastre”, afirma. Qualquer empresa precisa de figuras que joguem a dura realidade sobre os otimistas: tesoureiros, vice-presidentes financeiros, engenheiros de segurança...
Esse realismo é coisa pequena se comparado com o pessimismo do filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860). Para ele, o otimismo é a causa de todo o sofrimento existencial. Somos movidos pela vontade – um sentimento que nos leva a
agir, assumir riscos e conquistar objetivos. Mas essa vontade é apenas uma parte de um ciclo inescapável de desilusões: dela vamos ao sucesso, então à frustração – e a uma nova vontade.
Mas qual é o remédio, então? Se livrar das vontades e passar o resto da vida na cama sem produzir mais nada? Claro que não. A filosofia do alemão não foi produzida para ser levada ao pé da letra. Mas essa visão seca joga luz no outro lado da moeda do pessimismo: o excesso de otimismo – propagandeado nas últimas décadas por toneladas de livros de autoajuda. O segredo por trás do otimismo exacerbado, do pensamento positivo desvairado, não tem nada de glorioso: ele é uma fonte de ansiedade. É o que concluíram os psicólogos John Lee e Joane Wood, da Universidade de Waterloo, no Canadá. Um estudo deles mostrou que pacientes com autoestima baixa tendem a piorar ainda mais quando são obrigados a pensar positivamente.
Na prática: é como se, ao repetir para si mesmo que você vai conseguir uma promoção no trabalho, por exemplo, isso só servisse para lembrar o quanto você está distante disso. A conclusão dos pesquisadores é que o melhor caminho é entender
as razões do seu pessimismo e aí sim tomar providências. E que o pior é enterrar os pensamentos negativos sob uma camada de otimismo artificial. O filósofo britânico Roger Scruton vai além disso. Para ele, há algo pior do que o otimismo puro e simples:
o “otimismo inescrupuloso”. Aquelas utopias* que levam populações inteiras a aceitar falácias** e resistir à razão. O maior exemplo disso foi a ascensão do nazismo – um regime terrível, mas essencialmente otimista, tanto que deu origem à Segunda Guerra com a certeza inabalável da vitória. E qual a resposta de Scruton para esse otimismo inescrupuloso? O pessimismo, que, segundo ele, cria leis preparadas para os piores cenários. O melhor jeito de evitar o pior, enfim, é antever o pior.

(Extraído de M. Horta, “O lado bom das coisas ruins”, em Superinteressante, São Paulo, no 302, março 2012.

* Utopia: projeto de natureza irrealizável; ideia generosa, porém impraticável; quimera; fantasia.
** Falácia: qualquer enunciado ou raciocínio falso que, entretanto, simula a veracidade; raciocínio verossímil, porém falso; engano; trapaça.


O primeiro gênero do vestibular Unicamp 2013 não foi dos mais previsíveis (pelo menos na minha opinião); o resumo, embora seja tarefa frequente no ensino fundamental e médio, não é um texto tão presente em situações do mundo real, o que parece ser uma pequena mudança de direção em relação às propostas de 2011 e 2012.
Essa imprevisibilidade, no entanto, não é motivo para pânico. Tudo que o candidato precisava fazer era ler com atenção as orientações e o texto base para escrever um resumo adequado. Um fator que será considerado por muitos como uma “pegadinha” era a contextualização: a proposta afirmava que o autor deveria ser um aluno do ensino médio que escreveria um resumo para um texto a ser publicado em um painel na sua escola. Isso poderia levar a uma confusão análoga à ocorrida com muitos candidatos em 2012, no gênero verbete: sem conhecer bem a estrutura do vestibular Unicamp, alguns candidatos poderiam ter pensado que era necessário explicitar as características do autor do resumo (estudante do ensino médio) e a situação de produção (um painel em uma exposição sobre as implicações de características psicológicas no plano individual e na sociedade).
Os alunos que estudaram o caso do famigerado verbete de 2012 (comentários em http://temqueportitulo.blogspot.com.br/2011/11/redacao-na-unicamp-2012-genero-3.html), no entanto, devem ter percebido que, nas propostas da Unicamp, embora sempre haja um contexto, nem sempre ele deve ficar explícito no texto. Foi o caso no vestibular 2012 e novamente agora. Esperava-se, portanto, um texto que não fizesse referência direta às características do autor nem ao meio em que ele seria veiculado. Referências diretas talvez levem o texto à anulação nos critérios interlocução e gênero. O público alvo, presumivelmente formado por alunos da mesma escola do autor, também não deveria ser citado diretamente, mas seria possível mostrar que o texto foi produzido com esse público em vista por meio do uso de um vocabulário um pouco mais simples que o da matéria original.
Um cuidado a ser tomado seria a lembrança de que o gênero resumo não busca expor a visão de quem o elabora, mas respeitar as ideias presentes no texto que lhe serve de base. Assim, o candidato não deveria se equivocar com o formato da proposta e pensar que estava frente a um tema de dissertação. A banca não espera dos candidatos a capacidade de elaborar uma nova tese sobre o pessimismo, mas sim a habilidade de condensar os pensamentos de outro texto. Cumprir essa tarefa seria importante para não ter a redação anulada no critério propósito.
E que pensamento era esse? A primeira atitude para responder a essa pergunta seria considerar qual é o propósito de um resumo. Ora, trata-se de um texto que condensa as ideias mais importantes de um outro texto. E o que é mais importante em cada texto depende de a qual gênero ele pertence e, especialmente, a qual propósito ele se destina. Como o texto original era uma reportagem argumentativa, ou seja, um texto que apresenta ideias e as defende, podemos concluir que seus elementos mais importantes são a tese e os argumentos. Essa conclusão é reforçada pelas palavras exatas usadas na proposta para se referir à tarefa do candidato, que deveria “apresentar o ponto de vista expresso no texto, a respeito da importância do pessimismo em oposição ao otimismo, relacionando esse ponto de vista aos argumentos centrais que o sustentam”

Podemos afirmar que a tese, ou seja, a ideia central desenvolvida pelo texto-fonte, era a de que embora considerado inferior ao otimismo, o pessimismo é necessário para a vida em sociedade: a melhor forma de evitar coisas ruins é se preparar para elas. Os principais argumentos usados para defender essa tese eram os seguintes:
1. a atitude puramente otimista não leva a resultados práticos se não for freada por um certo pessimismo (que a reportagem chama de “realismo”, em um primeiro momento)
2. pessoas com autoestima baixa, quando obrigadas a agir positivamente, acabam por se deprimir ainda mais, já que o falso otimismo aumenta o choque entre a realidade cruel e as expectativas falsas
3. ideais políticos otimistas (como o nazismo, que via a própria vitória como um resultado inevitável da guerra) podem levar sociedades inteiras a negar evidências racionais e agir de forma irresponsável.
Alguém irá perguntar se era necessário citar os autores de cada uma das ideias do texto-fonte; embora eu não possa afirmar com certeza o que a Unicamp vai fazer nesse caso, acredito que o mais lógico é que a citação dos nomes seja desnecessária e, no limite, prejudicial. Afinal, trata-se de um resumo e não de uma cópia. E a proposta enfatiza a importância de representar no resumo as ideias centrais do texto-fonte (que independem dos nomes de seus defensores).
Um último detalhe curioso: ao contrário da maioria dos gêneros, este provavelmente não irá valorizar o uso do espaço disponível em sua totalidade (24 linhas). Afinal, a depender do tamanho da letra do candidato, é possível escrever quase uma cópia do texto original nesse espaço, o que foi explicitamente desencorajado (“uma vez que a matéria será reproduzida integralmente, seu texto deve ser construído sem copiar enunciados da matéria”). Assim, acredito que iremos ver textos relativamente curtos publicados como exemplos de nota acima da média.
Faltou alguma coisa? Deixe sua pergunta nos comentários e até a próxima.