Neste e
no próximo post, que deve ser publicado amanhã, vou comentar as propostas do
vestibular Unicamp 2014.
O
primeiro gênero pedido na prova da Unicamp 2014 foi um relatório. Esse nome pode ter causado algum espanto nos alunos,
mas, como de costume, a solução é bastante simples: ler a prova com cuidado e
preencher os elementos que compõem o gênero na situação específica proposta pela Unicamp.
A prova
de 2014 pediu, mais especificamente, um relatório
de atividade, em que alunos de uma escola iriam explicar como foi planejada
e realizada uma oficina cultural. Veja a proposta abaixo ou na página da Comvest:
Como de
costume nas provas da Unicamp, não basta saber o nome do gênero: muito mais
importante é entender as partes que o compõem e o propósito específico desse
gênero na situação colocada pela banca elaboradora. Ao mesmo tempo, não há
motivo para se desesperar se o gênero parece desconhecido, porque a própria
prova oferece informações suficientes para o candidato produzir seu texto.
1. O propósito:
Neste
ano, houve uma pequena mudança na forma como a proposta foi apresentada: em vez
de colocar algumas obrigações em um texto e o restante em tópicos, a Unicamp
concentrou a contextualização do
gênero nos dois primeiros parágrafos e a tarefa
no último parágrafo da proposta.
Os propósitos do relatório incluíam:
- apresentar
o projeto (incluindo informações sobre público-alvo,
objetivos e justificativa);
- relatar as
atividades desenvolvidas; e
- fazer comentário(s) sobre os impactos das atividades na comunidade.Mesmo se você nunca tivesse elaborado um relatório de atividades, esses elementos serviriam como uma base sólida para seu texto. A julgar pelas provas recentes da Unicamp, os examinadores deverão buscar identificar cada uma dessas tarefas nas redações dos candidatos.
Observando
com cuidado os elementos da proposta e prestando atenção também ao contexto em
que o gênero foi produzido, percebemos que se trata de um texto essencialmente informativo. A intenção do relatório
não é opinar nem convencer, por exemplo, mas apresentar fatos aos professores
que irão julgar a qualidade da oficina realizada.
Esse gênero
exigiu um pouco mais de inventividade do que os gêneros pedidos nos anos
anteriores; digo isso porque o candidato precisaria criar uma oficina cultural.
Ele poderia escolher um tema da lista presente no texto motivador, mas, ainda
assim, teria que explicar quais atividades específicas foram realizadas,
justificar essas atividades e imaginar até os resultados delas para a
comunidade. Como é improvável que a prova esteja tentando avaliar a capacidade
dos candidatos para elaborar projetos culturais, é natural assumir que qualquer
tema ou atividade da lista seria aceitável.
2. O
locutor:
A banca a
pediu ao candidato que se colocasse como o
membro de um grupo de alunos responsável por elaborar o relatório. Alguns
candidatos devem, por esse motivo, ter explicitado esse fato, dizendo algo do
tipo “sou aluno da escola tal e fui escolhido para escrever este relatório”.
Porém, as informações presentes na proposta dão a entender que não é essa a
intenção da banca, já que o propósito do gênero não é auxiliado por esse tipo
de intervenção pessoal. Minha avaliação é a de que os examinadores irão
valorizar textos impessoais ou com
poucas intervenções do locutor, como “nosso grupo escolheu o tema tal, por tal
e tal motivo.”
É
possível que a Unicamp aceite referências aos alunos que realizaram a oficina,
desde que essas referências não estejam integradas ao texto. Por exemplo, é
verossímil que um relatório de atividade apresente um “subtítulo” ou “assinatura”
dizendo “Oficina realizada pelos alunos A, B e C, da turma tal da escola tal”;
mas é estranho, em um texto objetivo e informativo, que haja a exploração de
características dos autores integrada ao relato das atividades: “eu quis fazer
uma oficina de cinema, porque eu gosto muito de filmes desde que meu pai me
levou ao cinema pela primeira vez, para assistir ‘Xuxa em O Mistério de Feiurinha’”. Além da má escolha do filme, o
trecho que acabei de citar traria um excesso de pessoalidade, que não contribui
com o propósito do gênero.
3. O
interlocutor:
O relatório
seria avaliado por uma comissão de
professores; no entanto, não parece haver necessidade de fazer referência
direta a eles, tanto pelo propósito do gênero (essencialmente informativo)
quanto pelo fato de que o texto será entregue diretamente aos leitores. Por
isso, podemos imaginar um interlocutor universal
como o mais adequado, principalmente se pensarmos na objetividade
característica de um texto informativo (foi o que ocorreu também com o gênero verbete, no vestibular 2012) Para se
dirigir a um interlocutor universal, basta não mencionar explicitamente quem é
o leitor do texto.
4. O
meio:
Quando um
aluno se depara com um gênero desconhecido, é comum haver dúvidas sobre a
estrutura esperada e o modo como ele deveria deixar claro que está fazendo o
gênero correto. A melhor saída, como sempre, é procurar informações sobre isso na
proposta.
No caso
do relatório, trata-se de um gênero com circulação muito específica, em que
cada instituição pode exigir um formato próprio (ao contrário do que ocorre com
gêneros como a notícia e a carta, por exemplo). Portanto, temos razões para
crer que a Unicamp irá aceitar diferentes maneiras de apresentá-lo.
Faz
sentido que o relatório tenha um título
do tipo “Relatório sobre a oficina cultural realizada em tal local em tal data”.
Não faz sentido, por outro lado, um título de notícia (“Alunos levam cultura a
comunidade carente”) ou de dissertação (“Oficinas culturais no Brasil do século
XXI”). Não acredito, no entanto, que o título seja um critério determinante
para a pontuação final do texto.
Uma
estratégia que costuma funcionar em textos informativos, especialmente naqueles
feitos para serem avaliados, é distribuir as informações em tópicos; mesmo que esses tópicos não
sejam explícitos, seria interessante organizar o texto de maneira a separar claramente
cada aspecto da tarefa, como no exemplo a seguir: “O público-alvo foi composto por
pessoas da comunidade, principalmente jovens em idade escolar..; o principal
objetivo da oficina foi colocar as pessoas em contato com...; a justificativa é
que, dessa forma, esses jovens poderiam, no futuro...”.
5. A
linguagem:
Tudo
indica que deveria ser usada uma linguagem formal,
objetiva e impessoal, pelos
motivos que eu já mencionei: trata-se de um texto informativo a ser avaliado
por uma comissão. Se todos os elementos anteriores foram observados, deve ser
natural que a linguagem escolhida tenha essas características.
Enfim,
essa é a minha análise do primeiro gênero. Não é nada oficial, apenas a leitura
que eu fiz da proposta: por isso, não fique desesperado se você tiver feito
algo diferente do que eu mencionei aqui.
Amanhã eu
posto o comentário do segundo gênero (carta
aberta).
Até
breve.
muito boa sua analise... foi exatamente como eu fiz.... eu nao tinha nenhuma noção desse tipo de Genero... fui fazendo de acordo com as instruçoes que a banca mencionava....
ResponderExcluirOlá professor, tudo bem? Estive lendo o que a Unicamp pôs como expectativa da banca e constava que deveríamos expor pontos negativos da nossa gestão à frente das Oficinas. Eu não entendi porque isso, já que temos que expor quão boa foi nossa gestão e convencê-los a nos dar mais um mandato.
ResponderExcluirAlém disso, gostaria de saber se, ao final, poderia usar a primeira pessoa do plural, pra expor o envolvimento e a participação direta, minha e do meu grupo, nos resultados obtidos.
O blog está ótimo, estou adorando. Muito obrigada pela contribuição.
Oi, Fraan. Obrigado pelo comentário, espero poder ajudar você. Minhas opiniões (não são oficiais, ok?):
ResponderExcluir1. acredito que os pontos negativos eram uma possibilidade, não uma obrigação;
2. não vejo problema, desde que isso não levasse o texto para um depoimento, com muita pessoalidade (dizendo como você se sentiu e como o projeto irá mudar sua visão de mundo, por exemplo).
Abraços.
Vinícius, obrigado pelo comentário. Acredito que sua atitude é mesmo a que faz mais sentido e recomendo a todos que vão fazer a prova da Unicamp. Não adianta memorizar algumas características de gêneros, como se elas fosse estáveis. O mais correto é mesmo observar cada proposta e tentar cumprir o que ela pede.
ResponderExcluirAbraços.
Olá professor, tudo bem?? Fiz o vestibular da Unicamp e fiz a carta aberta no modelo clássico, porém, como destinatário coloquei "participantes das redes sociais" pois tinha interpretado o comando erroneamente...(aquela parte que diz "reivindicar junto às autoridades municipais) Achei que a carta aberta era para ser dirigida ao publico e que você estava pedindo para ele adotar medidas para melhorar o transito urbano...
ResponderExcluirFui bem na prova objetiva e no relatório, porém cometi esse erro na carta... Existe alguma chances de eu não zerá-la? E caso haja, perderei muita nota por causa desse erro?
Oi, Vitor. Acho que, se o maior problema for esse que você mencionou, seu texto não deve ser anulado. No entanto, a carta está dirigida ao interlocutor errado, o que deve prejudicar um pouco a nota (não dá pra dizer quanto sem ler a redação). Abraços.
ExcluirHmm, ok, muito obrigado, isso já me deixa mais confiante!! O jeito é esperar o resultado para ver ne?! Novamente, muito obrigado!!
ExcluirProfessor,eu teria que escolher apenas uma daquelas atividades para a oficina ou eu poderia escolher mais de uma das que estavam no texto base? Por exemplo dança,teatro,cinema..
ResponderExcluirOi, Janaina. Pelo que eu entendi, a oficina poderia ter como tema qualquer combinação das atividades citadas na prova. Abraço.
ExcluirOlá Professor !! Tenho uma dúvida. Carta aberta para mim foi novidade, pois sou de Curitiba e não lembro de ter visto algo assim. Fiz uma carta com modelo clássico. Data..
ResponderExcluirDe...
Para..
E não escrevio Carta Aberta a..... como vi alguns exemplos na internet.
O que é o correto ?
Cintia
Oi, Cíntia. Mesmo em uma carta tradicional, é um pouco estranho escrever de: e para:, já que esses elementos (conhecidos também como "destinatário" e "remetente") costumam se localizar no envelope, não no interior do texto. Já uma carta aberta costuma ter como título "Carta Aberta a... ".
ExcluirSe, apesar desses equívocos, seu texto cumpriu os principais elementos da proposta, é possível que tenha uma nota média. Abraços.
Caso eu tenha me referido como público alvo, desta forma " Para os interessados em música" está correto né?
ResponderExcluirOi, Rogério. Estou imaginando que você se refere ao público alvo da oficina (não aos leitores do relatório, que são uma comissão de professores). Acredito que você agiu corretamente
ExcluirOlá, Cícero!
ResponderExcluirMeu nome é Luan, sou de Sumaré e participei do último vestibular da Unicamp. Em função disso, estou com dúvidas nas redações.
Em primeiro lugar, Cícero, no relatório eu fiz tudo que foi pedido, relatei as atividades tudo em 3ª pessoa. Entretanto, eu acredito que não segui a ordem estrutural de um relatório como aqueles formais, acadêmicos etc. Além disso, para dar uma cara de texto de ensino médio, no final eu coloquei: nome dos integrantes do grupo com as iniciais do meu nome.
Já na carta aberta, eu errei uma linha, logo no título, e passei um risco em cima dela. Por fim, o título foi: Carta aberta as autoridades municipais. Depois disso, o texto foi escrito em 1ª pessoa e com bastante marcas de interlocução. Porém, no final, eu pensando em vereador e outras autoridades municipais, escrevi: vamos nos unir e pressionar o prefeito a investir nas melhorias das rodovias.
Desse modo, Cícero, eu estou com medo do examinador pensar: se a carta é para as autoridades municipais, não faz sentido chamar o interlocutor para pressionar o prefeito, pois ele, também, é uma autoridade municipal.
Cícero, no geral, com base neste meu depoimento, como você avalia o meu desempenho?
Atenciosamente,
Luan C. Martins dos Santos
Oi, Luan. Acredito que seu relatório está adequado. No caso da carta aberta, o mais importante é que o interlocutor fique explícito no contexto geral da redação; ou seja, se a argumentação (e não apenas o título) deixou claro que a carta é voltada às autoridades municipais, é isso que o examinador vai considerar.
ExcluirNão há prejuízo em riscar uma linha; quanto à questão de pressionar o prefeito, também não vejo problema: embora você tenha dirigido a carta a autoridades municipais, isso não quer dizer, necessariamente, que cada um dos membros da administração do município seja o destinatário da carta. Por isso, enxergo como válida a possibilidade de você sugerir a uma autoridade (como um vereador) que interceda junto a outra autoridade (como o prefeito).
Mas quero deixar claro que essa é apenas minha opinião, baseada em pouquíssimas informações sobre seu texto. Para realmente avaliar suas redações, eu teria que ter acesso a elas.
Abraços.
Olá, Cícero!
ExcluirEntão, em todos os parágrafos, eu usei o vocativo senhores(as). Esta foi minha marca de interlocução, procurei representar bastante formalidade. Os argumentos foram relativos aos engarrafamentos, consequentes atrasos dos estudantes, trabalhadores, em compromissos etc.
Enfim, da para imaginar que fiz m bom trabalho?
Abraço!
Luan, dá para imaginar que você tenha feito um bom trabalho, sim.
ExcluirAbraços.
Boa noite professor. Primeiramente, parabéns pelo blog, está ficando realmente muito bom!
ResponderExcluirRealizei a prova de redação do Vestibular Nacional UNICAMP 2014 e fiquei com uma dúvida no relatório: não citei muitas atividades específicas na oficina cultural, ou seja, não enfoquei muito em um ou dois acontecimentos. Pelo contrário, fiz de uma maneira mais generalizada e mencionei que foram feitas diversas atividades, desde o incentivo a atividades recreativas, até algumas breves explicações por parte dos elaboradores da oficina. Acredita que esta forma é correta? Aguardo sua resposta, muito obrigado E novamente, parabéns pelo blog!
Oi, Lugano. Obrigado pelos elogios. Acredito que a forma como você escreveu é válida, embora eu não tenha como fazer nenhum julgamento mais preciso sem ler a redação.
ExcluirAbraços.
Professor Cícero, gostaria de saber como funciona o método de avaliação da proposta, por exemplo: o aluno ganha 1 na proposta se ele tiver cumprido tudo o que estava no enunciado ou há possibilidades de o aluno ganhar 1 na proposta caso ele só tenha esquecido de justificar o porquê das atividades.
ResponderExcluirDiego
Oi, Diego. Não tenho como responder com certeza, porque esse grau de detalhamento só é passado às pessoas que estão fazendo a correção. Acredito que é possível conseguir 1 em propósito sem justificar explicitamente as atividades, desde que haja outras ideias que, indiretamente, cumpram essa função de justificar.
Excluiracabei me esquecendo de algumas obrigações, há possibilidades de eu tirar 1 no propósito?
ResponderExcluirRennan
Rennan, é até possível, mas é improvável. Depende muito de quais obrigações você esqueceu.
ExcluirOlá, Cícero!
ResponderExcluirProfessor, graças a Deus deu certo, estou na segunda fase. Portanto, apesar desta página ser destinada a dúvidas relativas as redações do vestibular 2014, eu tenho uma dúvida com relação as questões da segunda fase.
Por exemplo, Cícero, sempre há questões pedindo para citar 2, ou 3 características sobre determinado assunto. Neste caso, se o candidato citar mais do que o que foi pedido, ou seja, 5, 6 ou 7 características, ele é penalizado?
Atenciosamente,
Luan C. Martins dos Santos
Professor teria algum email que o senhor possa disponibilizar para correção de uma redação que eu fiz em forma de relatório, porque irei prestar o vestibular Unicamp e nunca fiz redação neste formato.
ResponderExcluirAtt, Lucas.