quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Como fazer uma boa redação no vestibular Unicamp? (passo 4: a linguagem)



Neste último post da série sobre a redação no vestibular Unicamp 2014, vou falar sobre a quarta pergunta a ser respondida por quem quer escrever um bom texto (em qualquer gênero!) no dia da prova. A pergunta é a seguinte:

4)    qual é a linguagem mais adequada?



Formal ou informal?


Nos últimos anos, têm sido apresentados gêneros diversos, em que a linguagem poderia variar bastante, já que as situações não são sempre formais nem ocorrem unicamente em ambientes escolares. Porém, o que vemos nas redações avaliadas como acima da média é uma forte tendência à valorização da formalidade. Um exemplo é o texto abaixo, um comentário sobre um gráfico publicado pelo site da MTV:


Confesso que fiquei bastante impressionado com alguns dados da pesquisa. Eu, um jovem extremamente defensor das vivências e das relações interpessoais, já que acredito que são fundamentais para a construção do caráter, ética e cidadania, fiquei espantado ao ver a queda apresentada no quesito “(J) ter amigos” entre os anos de 1999 e 2008. E igualmente perplexo ao notar que em apenas três anos, houve uma diminuição no número de jovens que consideram importante “(B) divertir-se e aproveitar a vida”. Fico me perguntando, até com certo pesar, se não seria esse um reflexo de uma sociedade cada vez mais refém dos avanços tecnológicos, da rapidez das informações, e da superficialidade das relações, favorecidas pelas milhares de redes sociais virtuais.

(Link para o tema: http://www.comvest.unicamp.br/vest_anteriores/2012/download/comentadas/redacao.pdf (página 3)



No texto acima, o locutor deveria ser um jovem, (note que o autor do texto, sabiamente, foi explícito ao cumprir essa parte da proposta: “Eu, um jovem...”). Essa característica do locutor poderia justificar uma linguagem mais informal. No entanto, a Unicamp publicou como exemplos de bons textos redações bastante formais, o que permite concluir que, na dúvida, é melhor privilegiar a formalidade.



Pessoal ou impessoal?



Essa pergunta já deve ter sido respondida anteriormente, quando você identificou o locutor e o interlocutor do texto. Se o texto é impessoal, como um verbete, um editorial ou uma notícia, lembre-se agora de escrever sem nunca fazer referência a si mesmo nem ao seu leitor. Não escreva, por exemplo, “eu acredito que o Brasil precisa investir mais em educação”; escreva “o Brasil precisa investir mais em educação”.

Agora, se o texto exige interlocução (como uma carta, um depoimento, um discurso ou um comentário), lembre-se de não restringir essa interlocução ao início do texto: faça referências aos participantes do discurso a cada parágrafo (de preferência, citando características desses participantes). Veja um exemplo de um candidato que fez isso no vestibular Unicamp 2012, no gênero comentário:



Acho que este acesso e contínua “renovação” tecnológica, (sejam por pesquisas genéticas, eletrônicas ou robóticas, por exemplo), não estimula no jovem o anseio de seguir pesquisando mais e mais, e sim o estímulo a procurar uma carreira que consegue utilizar todas estas ferramentas disponíveis para um melhor desempenho. Este é o caso por exemplo da Inglaterra, Noruega e também da região metropolitana de São Paulo, e acho que seja também o seu exemplo.

Já pelo outro oposto do gráfico, regiões pobres e/ou pouco desenvolvidas, ou ainda onde o acesso ao desenvolvimento é muito difícil e para poucos, o interesse em ser cientista é bastante grande. E é deste lado que eu estou, amigo paulista, pois onde moro, toda tecnologia/descoberta recente não está presente, o presente que tenho é a falta de pesquisa, na agricultura, na saúde, na disseminação da cultura e educação.






Veja que o locutor se apresenta como um morador de um local com pouco acesso à tecnologia, ao mesmo tempo em que revela ter compreendido que seu interlocutor, que assina como Estudante Paulista, é morador de uma região mais desenvolvida. Ou seja, em vez de apenas usar pronomes para se referir a si mesmo e ao interlocutor (“eu acho, “eu penso”, “você não concorda?”), ele se aproveita de características de ambos para reforçar a argumentação e a interlocução.



É isso por enquanto. Se você seguir esses quatro passos, é provável que consiga elaborar um texto de acordo com o que a Unicamp espera. Não deixe de fazer o seu projeto e reler a redação antes de entregá-la, para conferir se fez tudo o que era necessário. 

Boa prova!

Um comentário:

  1. Parabéns pela série de posts. Ao meu ver, para garantir uma boa nota, basta seguir todas as instruções da prova. Acho que o fato da Unicamp exigir a elaboração de textos dos mais variados gêneros coloca a universidade num patamar superior em relação às demais, bem como seleciona melhor os candidatos aprovados.

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