Em 2015, temos mais uma vez uma carta na prova
da Unicamp. Agora, é uma carta-convite que também tem
características de carta argumentativa.
Veja a proposta abaixo ou na página da
Comvest: http://www.comvest.unicamp.br/vest2015/F2/provas/redport.pdf
Em busca de soluções para os inúmeros
incidentes de violência ocorridos na escola em que estudam, um grupo
de alunos, inspirados pela matéria “Conversar para resolver
conflitos”, resolveu fazer uma primeira reunião para discutir o
assunto. Você ficou responsável pela elaboração da
carta-convite dessa reunião, a ser endereçada pelo grupo
à comunidade escolar – alunos, professores, pais, gestores
e funcionários.
A carta deverá convencer os membros da
comunidade escolar a participarem da reunião, justificando
a importância desse espaço para a discussão de ações concretas
de enfrentamento do problema da violência na escola. Utilize as
informações da matéria abaixo para construir seus
argumentos e mostrar possibilidades de solução.
Lembre-se de que o grupo deverá assinar
a carta e também informar o dia, o horário e o local
da reunião.
Conversar para resolver conflitos.
Quando a escuta e o diálogo são as regras,
surgem soluções pacíficas para as brigas.
Alunos que brigam com colegas, professores que
desrespeitam funcionários, pais que ofendem os diretores. Casos de
violência na escola não faltam. A pesquisa O Que Pensam os Jovens
deBaixa Renda sobre a Escola, realizada pelo Centro Brasileiro de
Análise e Planejamento (Cebrap) sob encomenda da Fundação Victor
Civita (FVC), ambos de São Paulo, revelou que 11% dos estudantes se
envolveram em conflitos com seus pares nos últimos seis meses e
pouco mais de 8% com professores, coordenadores e diretores. Poucas
escolas refletem sobre essas situações e elaboram estratégias para
construir uma cultura da paz. A maioria aplica punições que, em vez
de acabarem com o enfrentamento, estimulam esse tipo de atitude e
tiram dos jovens a autonomia para resolver problemas.
Segundo Telma Vinha, professora de Psicologia
Educacional da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e
colunista da revista NOVA ESCOLA, implementar um projeto
institucional de mediação de conflitos é fundamental para
implantar espaços de diálogo sobre a qualidade das relações e os
problemas de convivência e propor maneiras não violentas de
resolvê-los. Assim, os próprios envolvidos em uma briga podem
chegar a uma solução pacífica.
Por essa razão, é importante que, ao longo do
processo de implantação, alunos, professores,
gestores e funcionários sejam capacitados para
atuar como mediadores. Esses, por sua vez, precisam ter algumas
habilidades como saber se colocar no lugar do outro, manter a
imparcialidade, ter cuidado com as palavras e se dispor a escutar.
O projeto inclui a realização de um
levantamento sobre a natureza dos conflitos e um trabalho
preventivo para evitar a agressão como
resposta para essas situações. Além disso, ao sensibilizar os
professores e funcionários, é possível identificar as violências
sofridas pelos diferentes segmentos e atuar para acabar com elas.
Pessoas capacitadas atuam em encontros
individuais e coletivos
Há duas formas principais de a mediação
acontecer, segundo explica Lívia Maria Silva Licciardi,
doutoranda em Psicologia Educacional,
Desenvolvimento Humano e Educação pela Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). A primeira é quando há duas partes envolvidas.
Nesse caso, ambos os lados se apresentam ou são chamados para
conversar com os mediadores - normalmente eles atuam em dupla para
que a imparcialidade no encaminhamento do caso seja garantida - em
uma sala reservada para esse fim. Eles ouvem as diversas versões,
dirigem a conversa para tentar fazer com que todos entendam os
sentimentos colocados em jogo e ajudam na resolução do episódio,
deixando que os envolvidos proponham caminhos para a decisão final.
A segunda forma é utilizada quando acontece um
problema coletivo - um aluno é excluído pela turma, por exemplo.
Diante disso, o ideal é organizar mediações coletivas, como uma
assembleia. Nelas, um gestor ou um professor pauta o encontro e
conduz a discussão, sem expor a vítima nem os agressores. "O
objetivo é fazer com que todos falem, escutem e proponham saídas
para o impasse. Assim, a solução deixa de ser punitiva e passa a
ser formativa, levando à corresponsabilização pelos resultados",
diz Ana Lucia Catão, mestre em Psicologia Social pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUCSP).
Ela ressalta que o debate é enriquecido quando
se usam outros recursos: filmes, peças de teatro e músicas ajudam
na contextualização e compreensão do problema.
No Colégio Estadual Federal (CEF) 602, no
Recanto das Emas, subdistrito de Brasília, o Projeto Estudar em Paz,
realizado desde 2011 em parceria com o Núcleo de Estudos para a Paz
e os Direitos Humanos da Universidade de Brasília (NEP/UnB), tem 16
alunos mediadores formados e outros 30 sendo capacitados.
A instituição conta ainda com 28 professores
habilitados e desde o começo deste ano o projeto faz parte da
formação continuada. "Os casos de violência diminuíram.
Recebo menos alunos na minha sala e as depredações do patrimônio
praticamente deixaram de existir. Ao virarem protagonistas das
decisões, os estudantes passam a se responsabilizar por suas
atitudes", conta Silvani dos Santos, diretora. (...)
"Essas propostas trazem um retorno muito
grande para as instituições, que conseguem resultados
satisfatórios. É preciso, porém, planejá-las criteriosamente",
afirma Suzana Menin, professora da Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho (Unesp).
(Adaptado de Karina Padial, Conversar para
resolver. Gestão Escolar. São Paulo, no
. 27, ago/set 2013.
http://gestaoescolar.abril.com.br/formacao/conversar-resolver-conflitos-brigas-dialogo-762845.shtml?page=1.
Acessado em 02/10/2014.)
Essa proposta é uma das mais claras dos
últimos anos. O propósito da carta-convite é explícito, assim
como algumas características que costumam causar dúvidas (por
exemplo, a necessidade de assinatura da carta). Mesmo assim, vamos
analisar cada elemento da proposta:
1. O propósito:
O propósito principal da carta é convidar
membros da comunidade escolar para uma reunião. Mais
especificamente, podemos dividir esse propósito em quatro partes:
- convidar os membros da comunidade escolar a participarem de uma reunião;
- utilizar informações da matéria apresentada para convencer a comunidade escolar a atender ao convite;
- Mostrar possibilidades de solução para o problema;
- informar o dia, o horário e o local da reunião.
Embora pareçam muitas obrigações, elas fazem
bastante sentido para a proposta e estão apresentadas de forma
explícita. Acredito, portanto, que a maioria dos candidatos tenha
conseguido cumprir essa parte da tarefa.
A maior dificuldade, provavelmente, envolveu as
partes 2 e 3 do propósito. Ainda assim, não se trata de uma grande
barreira, já que a matéria oferece dados mais que suficientes para
argumentar sobre a necessidade de discutir o problema da violência.
Por exemplo, alguns trechos que poderiam ser aproveitados:
Segundo Telma Vinha (…), implementar um
projeto institucional de mediação de conflitos é fundamental para
implantar espaços de diálogo sobre a qualidade das relações e os
problemas de convivência e propor maneiras não violentas de
resolvê-los.
(…) é
importante que, ao longo do processo de implantação, alunos,
professores, gestores e funcionários sejam capacitados para atuar
como mediadores.
(…) o
ideal é organizar mediações coletivas, como uma assembleia. Nelas,
um gestor ou um professor pauta o encontro e conduz a discussão,
sem expor a vítima nem os agressores.
Ao
virarem protagonistas das decisões, os estudantes passam a se
responsabilizar por suas atitudes.
A leitura atenta do texto de apoio deixa claro que o diálogo é o
melhor caminho: a proposta de solução para o problema deveria
incluir, de alguma maneira, a existência de encontros regulares em
que a violência seja discutida abertamente por todos os envolvidos
(alunos, professores e funcionários, principalmente) e os argumentos
deveriam se basear nesse princípio. A própria ideia dos estudantes
de convidar a comunidade escolar para uma reunião em que o problema
será debatido é um argumento favorável à necessidade do diálogo.
Quanto ao convite propriamente dito e às informações, acredito que
deveriam aparecer da maneira mais explícita possível. Por exemplo:
“portanto, convidamos toda a comunidade escolar (pais, alunos,
professores, gestores e funcionários) para a reunião que ocorrerá
no auditório da escola, no dia 9 de fevereiro de 2015, a partir das
19h”. A presença das palavras usadas pela própria banca
elaboradora ajuda a mostrar compreensão da proposta e facilita o
trabalho do avaliador, quando ele for procurar elementos para se
certificar de que as tarefas foram todas cumpridas.
2. O locutor:
A banca a pediu claramente que o candidato se
colocasse como representante de um grupo de alunos interessados em
promover debates sobre a violência na escola. Como as
características do aluno que está escrevendo o texto não são
mencionadas (e, ao que tudo indica, não são relevantes), o texto
deveria ser escrito na 1a pessoa do plural (“nós,
estudantes da escola tal...”).
A proposta não deixa claro se os estudantes
fazem parte de uma série específica ou não. Pela leitura do texto
motivador, e considerando a abrangência do problema da violência
nas escolas, acredito que o mais lógico seria escrever a carta em
nome dos alunos da escola como um todo, mas não creio que a Unicamp
irá penalizar textos em que os locutores pertençam todos a uma
mesma sala ou a outro grupo específico (como o grêmio estudantil,
por exemplo).
Lembre-se de que foi pedido, explicitamente,
que o grupo assinasse a carta-convite. Acredito que o modo ideal de
cumprir essa tarefa seria simplesmente escrever, ao final do texto,
algo como
“Atenciosamente,
Alunos da Escola Estadual Fulano de Tal”.
3. O interlocutor:
A carta deveria ser dirigida à comunidade
escolar. Imagino que a banca examinadora aceitará essa denominação
genérica, mas seria mais seguro discriminar os participantes (pais,
alunos, professores, gestores e funcionários). Como estamos
falando de um grupo muito heterogêneo de interlocutores, a Unicamp
provavelmente não espera que os textos desenvolvam a imagem dessas
pessoas. A única característica que eu vejo como interessante é a
que todos têm em comum: a participação na vida escolar (que
inclui, presumivelmente, o interesse em diminuir o número de casos
de violência).
Como se trata de uma carta, a menção ao
interlocutor deve estar explícita, logo no início (“Aos pais,
alunos, professores, gestores e funcionários que formam a
comunidade do Colégio Tal”) e deve ser explorada durante o texto.
Um problema muito frequente em cartas cobradas em vestibulares é a
ausência de interlocução. Para melhorar sua pontuação, o
candidato deve ter feito referências aos interlocutores durante todo
o texto, usando expressões como “vocês, que se importam com a boa
convivência nesta escola, precisam colaborar para discutirmos
abertamente o problema da violência em nosso colégio”.
4. Meio e estrutura:
Ao contrário de anos anteriores, em que as
cartas tinham características híbridas que podem ter causado
dúvidas, este ano a Unicamp pediu uma carta mais tradicional:
provavelmente, espera-se a estrutura com data, local e destinatários
no alto da página e depedida e assinatura no final. Não há motivos
para pensarmos que outra estrutura seria mais valorizada, embora a
Unicamp provavelmente aceite variações do modelo clássico (por
exemplo, ausência de data e local).
Uma forma de garantir o cumprimento da tarefa é
usar, sempre que o gênero permitir, o próprio nome do gênero.
Neste caso, seria possível usar uma expressão como “estamos
enviando esta carta-convite porque queremos...”.
5. A linguagem:
Sobre a linguagem, espera-se que o candidato
escreva um texto formal e que use interlocução, de modo a
caracterizar a carta. A ausência de interlocução será,
provavelmente, uma falha muito mais grave do que a ausência de
aspectos formais, como o cabeçalho.
É isso. A carta-convite, embora não seja um
gênero tão previsível, não deve ter causado muitas dificuldades
para os alunos bem preparados. Além disso, a proposta deste ano
estava mais claramente formulada, o que deve ter facilitado o
trabalho de quem a leu com atenção. Se ainda houver dúvidas, podem
perguntar por aqui e vou responder na medida do possível (as férias
estão acabando...).
Até breve.
Estou com pequenas dúvidas sobre como realizar está redação de forma convidativa, eu deveria propor soluções e assim convida los ou deveria apenas informar de tais problemas, e comentar um pouco sobre "diálogos e seus benefícios"?
ResponderExcluirO foco da carta-convite não é propor as soluções, mas chamar as pessoas a participar de uma reunião. Então, a segunda opção é mais adequada: fale dos problemas e mencione brevemente que a solução passa pelo diálogo.
ResponderExcluirMuito bom! Ótimo blog, me ajudou muito!
ResponderExcluirObrigada...